Notícias

Fique por dentro das notícias da cidade e região.

Novos medicamentos melhoram perspectivas para o tratamento da asma

  • Data: 23/Jun/2025

Os chamados remédios imunobiológicos têm apresentado resultados positivos em pessoas asmáticas que fazem acompanhamento contínuo

asma – doença crônica comum, tanto em crianças quanto em adultos – representa um problema global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 250 milhões de pessoas no mundo vivem com a enfermidade. No Brasil, as estimativas sinalizam cerca de 20 milhões de asmáticos.

A moléstia acomete o pulmão, junto de uma inflamação crônica dos brônquios. No Dia Nacional de Controle da Asma – celebrado em 21 de junho –, Zero Hora apresenta os medicamentos e as tecnologias empregadas atualmente no tratamento da patologia. 

Medicamentos mais eficazes

O pneumologista pediátrico Paulo Pitrez, da Santa Casa de Porto Alegre e da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul (SPTRS), afirma que o cenário da asma no país é "complicado".

— A asma no Brasil ainda é uma doença em que a grande maioria dos pacientes têm a sua enfermidade não controlada. De 80% a 90% não tratam da asma adequadamente — relata.

O médico cita dados do DataSUS, do governo federal, que evidenciam o problema. Na avaliação do profissional, os pacientes estão morrendo em casa, enquanto chamam atendimento e até a caminho do hospital. 

— Pela primeira vez em décadas, a mortalidade da asma está aumentando. E 30% dessas mortes acontecem fora do ambiente hospitalar. São sete mortes de asma por dia no Brasil

Conforme Pitrez, o surgimento de uma série de tratamentos medicamentosos eficazes, inclusive para a asma grave, representou uma grande virada.

— Hoje, o mantra do especialista capacitado e treinado para atender asma, é "ninguém mais deve sofrer dessa doença" — observa.

Nós já temos os tratamentos. O que precisamos é de educação sobre a doença para os pacientes e para os médicos.

PAULO PITREZ

Pneumologista pediátrico da Santa Casa de Misericórdia

O pneumologista menciona que há tratamentos plenos inalatórios e, para os pacientes com casos graves, os imunobiológicos. Este segundo é caro, mas já disponibilizado tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto nos serviços de saúde privados.

— Temos três grupos de medicamentos inalatórios, que chamamos de preventivos. São corticoides inalatórios e dois tipos de broncodilatadores — diz, ilustrando que os pacientes, quando usam diariamente os remédios indicados pelos médicos, sentem-se bem. 

Os avanços no tratamento envolvem os imunobiológicos produzidos em laboratórios pelas indústrias farmacêuticas.

— Eles (imunobiológicosbloqueiam os mediadores inflamatórios. É um medicamento injetável subcutâneo. Nos últimos anos, surgiram cinco imunobiológicos para os casos de asma grave — enumera, reiterando que significam um grande avanço no tratamento dos pacientes.

E compartilha o que representam essas novidades no combate à asma.

— Isso foi um grande avanço para os pacientes que não respondiam ao tratamento. Praticamente, some a doença. Mas precisa tratar que nem o diabetes e a pressão alta. Isso mudou totalmente o cenário mundial da asma. Hoje, conseguimos tratar muito bem quando a doença está começando e o paciente não a deixou evoluir — avalia.

Os vírus respiratórios são considerados pelo especialista os "grandes vilões" da asma. Em razão disso, a orientação é para que asmáticos se vacinem contra a Influenza e a Covid. Questionado sobre o que seria o ideal quando o assunto é tratamento da asma, o médico fala em educação:

— Nós já temos os tratamentos. O que precisamos é de educação sobre a doença para os pacientes e para os médicos.

Identificar o perfil dos pacientes

A pneumologista Samanta Madeira de Oliveira, do Hospital Mãe de Deus, assegura que o tratamento da asma mudou significativamente nos últimos 10 anos. Conforme a médica, o atendimento passa pela caracterização do "fenótipo" (características genéticas aparentes ou visíveis da pessoa).

— Seria ver se esse paciente tem um perfil alérgico, neutrofílico (na doença grave é um subtipo inflamatório da asma caracterizado por um predomínio de neutrófilos nas vias aéreas, em contraste com a forma mais comum da enfermidade, que apresenta padrão eosinofílico). Baseado nesses perfis é que vamos definir o tratamento. 

Segundo a pneumologista, um dos exames mais realizados para a caracterização dos perfis envolve a Fração Exalada de Óxido Nítrico (FeNO). Trata-se de um teste não invasivo utilizado para medir a quantidade de óxido nítrico exalado durante o processo de respiração. 

— Seria um dos critérios para nós caracterizarmos o fenótipo alérgico, que é mais conhecido como tipo 2 (T2). É o mais falado hoje em dia, porque é o perfil do paciente que tem bastante medicação nova que seriam os imunobiológicos — comenta.

A médica ressalta que o tratamento da asma é feito com as medicações inalatórias (bombinhas), com corticoide inalatório e broncodilatador de longa duração, e as medicações de alívio.

— Os pacientes que seguem tendo crises nos últimos 12 meses (tempo usado de referência, conforme a médica) podem estar em um perfil de asma grave ou de difícil controle. Para esses, vamos indicar os imunobiológicos, que são medicações que agem especificamente em marcadores do trato respiratório — compartilha.

A profissional cita alguns medicamentos empregados no tratamento, como mepolizumabe, dupilumabe, banralizumabe, tremelimumabe e tezepelumabe. E o omalizumabe, oferecido pela Farmácia de Medicamentos Especiais do Estado.

Samanta observa que o perfil mais comum dos pacientes atendidos é o de pessoas que não foram tratadas de forma adequada durante a infância, quando os perfis diferentes não eram ainda muito reconhecidos.

— Temos recebido pacientes com doenças que evoluíram. A maioria tem o perfil alérgico que tende a ter uma resposta melhor. E que temos vários medicamentos no mercado, além das medicações inalatórias.

Conforme o Ministério da Saúde, a asma conta com sintomas bem característicos. Porém, alguns podem ser confundidos com os de outras doenças. Veja os sinais mais comuns:

  • Tosse seca
  • Chiado no peito
  • Dificuldade para respirar
  • Respiração rápida e curta
  • Desconforto torácico
  • Ansiedade 

O empresário Bernardo Reichert Pohlmann, 23 anos, convive com a asma alérgica desde os primeiros meses de vida. Filho de pais que foram asmáticos na infância, o morador de São Leopoldo, no Vale do Sinos, é um exemplo a seguir em termos de dedicação e seriedade no tratamento. 

No começo, Pohlmann utilizava bombinhas, medicações e antialérgicos. Atualmente, o jovem é acompanhado pela alergista e imunologista Mariana Jobim. Desde então, o paciente não precisou mais usar bombinhas e teve bons resultados. 

— Ela me apresentou os imunobiológicos, que foram a minha salvação. Estou fazendo aplicação do Dupilumabe (medicamento que age diretamente no sistema imunológico bloqueando duas substâncias inflamatórias envolvidas em lesões alérgicas das vias respiratórias). É subcutânea e ocorre a cada duas semanas — conta.

Pohlmann chegou a praticar vôlei de alto rendimento durante sete anos, quando defendeu as cores da Sociedade Ginástica Novo Hamburgo. Continua de forma recreativa na modalidade e também joga futebol, paddle, beach tennis e faz natação.  

— A asma que eu tenho é alérgica, vem através do ácaro e da poeira. Tem em tudo o que é lugar. Então, para complementar o tratamento dos imunobiológicos, faço uso de gotas sublinguais. É um ácaro líquido que aplico diariamente para o meu corpo criar uma imunidade ao ácaro.

Combater a enfermidade – além da rinite, sinusite e bronquite, que ele também possui – virou uma batalha diária. Em razão da alergia ao pó, a família tomou uma série de medidas para deixar o ambiente no apartamento mais limpo. Confira algumas:

  • Tirar os sapatos ao entrar em casa, pois os calçados trazem poeira e sujeira da rua
  • Não exibir bibelôs nas estantes, porque eles acumulam poeira. Manter esses enfeites dentro de cristaleiras
  • Não ter cortinas, tapetes e carpetes em casa
  • Travesseiros e colchões têm uma capa de proteção plástica 
  • Trocar lençóis a cada dois ou três dias
  • Roupas penduradas em cabides nos armários do quarto
  • Lavar almofadas frequentemente
  • Lavar cobertores antes de usar no período de frio
  • Utilizar sabão líquido antialérgico para lavar as roupas
  • Não usar amaciante na máquina de lavar roupa
  • Limpar regularmente o interior da máquina de lavar

Aos seis meses de idade, ele já tinha uma pneumologista pediátrica o acompanhando. Com cerca de dois anos, exames médicos descobriram nele a asma alérgica. Hoje, o cenário é outro. O dupilumabe mudou sua vida.

— Para a asma, o paciente não pode abandonar o tratamento contínuo.

E orgulha-se do resultado: 

— Nunca mais usei bombinha.

A professora de natação Cristiane Reichert, 53, é mãe do empresário. Ela conta que quando a família viaja e fica em um hotel, chega a abrir o aparelho de ar-condicionado para limpar o filtro. Tudo pelo bem-estar do filho.

— A principal recomendação que eu daria para quem tem asma é ter um pneumologista pediatra e fazer o tratamento à risca. Não dá para mosquear, porque a asma pode ser desencadeada até quando a pessoa está sentada em um sofá — alerta, dizendo que a prática de atividades físicas auxilia no processo.

A asma que eu tenho é alérgica, vem através do ácaro e da poeira. Tem em tudo o que é lugar.

BERNARDO REICHERT POHLMANN

Empresário de São Leopoldo

Mariana Jobim, que integra o corpo clínico do Hospital Moinhos de Vento, elogia o paciente:

— Ele (Bernardo) é um case de sucesso com as novas drogas para a asma. Ele faz uso de biológico e de imunoterapia para tolerância imunológica.

A médica entende ser necessário "individualizar o tratamento", de acordo com cada "tipo de paciente" e "como funciona a asma dele". 

Estudos e medicações

Estudos relacionados ao tratamento da asma têm apresentado progressos significativos. Empregado em casos mais graves, o benralizumabe representa um marco no Reino Unido. No fim de 2024, pesquisadores do King's College London descobriram um novo tratamento para crises de asma e doença pulmonar obstrutiva crônica utilizando esse medicamento. A pesquisa foi publicada na The Lancet Respiratory Medicine

O benralizumabe – já receitado para determinados pacientes com asma severa – é um anticorpo monoclonal administrado por injeção, em única dose. No estudo clínico, os cientistas perceberam que o medicamento também ajuda pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

Em fevereiro deste ano, foram incluídos no Sistema Único de Saúde (SUS) os medicamentos dupilumabe e benralizumabe para o tratamento de pacientes com asma grave. O primeiro bloqueia duas substâncias inflamatórias (citocinas IL-4 e IL-13) envolvidas no processo inflamatório alérgico das vias respiratórias. 

Por sua vez, o segundo paralisa células de defesa conhecidas como eosinófilos, responsáveis pela inflamação nos brônquios em parte dos casos graves da doença. 

Atendimentos por asma na Capital

Conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), entre os dias 1º de abril e 6 de junho de 2025, foram registrados 7.021 atendimentos relacionados à asma na Atenção Primária. Confira os grupos mais afetados:

  • Adultos de 18 a 60 anos (42,6% dos atendimentos)
  • Crianças entre 5 e 11 anos (23%)
  • Predomínio de atendimentos femininos (61,94%)

Trataram-se de casos relacionados a doenças respiratórias do grupo CID J40_J47, com destaque para os seguintes subtipos da enfermidade:

  • J45.0 (asma predominantemente alérgica)
  • J45.1 (asma não alérgica)
  • J45.8 (outras formas de asma)
  • J45.9 (asma não especificada)
  • J46 (estado de mal asmático)

O pico mais alto ocorreu em 2 de junho, com 229 atendimentos em um único dia, o que evidencia o impacto da aproximação do inverno.

Protocolos e recomendações para quem possui asma

Conforme a prefeitura de Porto Alegre, pessoas com diagnóstico de asma devem intensificar os cuidados preventivos em períodos mais frios

Existem recomendações e prevenções como vacinação. Em casos de situações agudas, a orientação é procurar unidades de saúde e de pronto atendimento.  

  • Manter a medicação de uso contínuo em dia, conforme prescrição médica
  • Evitar exposição a ambientes com poeira, mofo ou fumaça
  • Hidratar-se e, se possível, evitar mudanças bruscas de temperatura (ambiente quente para outro frio, por exemplo)
  • Buscar atendimento médico ao primeiro sinal de agravamento dos sintomas respiratórios (falta de ar, chiado, tosse persistente) 

A rede de Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada preferencial para o atendimento de pacientes com sintomas de asma. Em situações de crise mais intensa ou agravamento súbito, a orientação é procurar uma das unidades de Pronto Atendimento do município ou emergência.

Fonte: Zero Hora

Foto: barmalini / Adobe Stock

Outras notícias