Diabetes tipo 5: entenda a nova classificação da doença
Condição foi citada pela primeira vez há cerca de 70 anos, mas não era amplamente reconhecida
Uma nova classificação de diabetes foi trazida para o debate pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês). Recentemente, durante o Congresso Mundial de Diabetes, na Tailândia, a entidade reconheceu uma forma menos conhecida da doença: o diabetes tipo 5.
A condição não é nova. Ela foi registrada pela primeira vez há cerca de 70 anos, conforme aponta a Faculdade de Medicina Albert Einsten, de Nova York, uma das instituições que tem se debruçado sobre a temática.
Anteriormente, ela era chamada de "diabetes associada à desnutrição" e permanecia indefinida por conta da falta de estudos.
Estima-se que essa forma da doença afete de 20 a 25 milhões de pessoas, principalmente crianças e jovens abaixo dos 30 anos de países subdesenvolvidos da Ásia e da África. Ela está diretamente relacionada à carência de nutrientes fundamentais e a contextos de desnutrição extrema.
— É uma doença que acomete indivíduos jovens, no geral, e a característica principal é que são pessoas de muito baixo peso, com IMC abaixo de 19. São indivíduos muito emagrecidos. E, por acometer pessoas magras e muito jovens, confunde muito com o tipo 1. Mas, tem diferenças muito importantes — pontua Fernando Valente, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
De acordo com a chefe do serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Ticiana da Costa Rodrigues, o fator exato que leva à patologia ainda não é completamente entendido pela comunidade científica, assim como as diretrizes para o diagnóstico e o tratamento.
— Ainda não é possível bater o martelo, mas as teorias que existem apontam que a desnutrição em fases muito precoces da vida pode afetar a célula beta pancreática, responsável pela produção da insulina. Consequentemente, a pessoa passaria a produzir menos insulina. Ou seja, é uma deficiência muito profunda na produção — cita.
Diferença do diabetes tipo 1 e do tipo 2
Os tipos de diabetes se diferenciam de modo considerável. O tipo 1 está relacionado a uma doença autoimune e, muitas vezes, de natureza genética. A doença surge de repente e o sistema imunológico passa a atacar as células do pâncreas que produzem insulina. Já o tipo 5 envolve o desenvolvimento da condição a partir de um determinado contexto.
— A diferença é o histórico. São pessoas que já tinham muito baixo peso, uma desnutrição extrema. E, em um certo momento, pode passar a desenvolver os sintomas do diabetes, como emagrecimento, perda peso, muita sede e vontade frequente de urinar. No diabetes tipo 1, a criança, por exemplo, vêm de um histórico plena de sua saúde e, subitamente, desenvolve sintomas associados ao diabetes. O de desnutrição tem esse histórico de fome — aponta Ticiana.
O diabetes tipo 2 parte do oposto. O organismo desenvolve uma resistência à insulina, influenciado por fatores como obesidade e sedentarismo. Cerca de 90% dos pacientes diabéticos no Brasil têm essa forma da doença.
Tipos de diabetes mais comuns
Além do diabetes tipo 1 e 2, há outras formas da doença.
- Diabetes gestacional: ocorre temporariamente durante a gravidez. As taxas de açúcar no sangue ficam acima do normal, mas ainda abaixo do valor para ser classificada como diabetes tipo 2
- Diabetes Latente Autoimune do Adulto (LADA): é uma condição que acomete os adultos e caracteriza-se pela destruição de células pancreáticas devido ao desenvolvimento de um processo autoimune do organismo
- Pré-diabetes: É quando os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal, mas ainda não estão elevados o suficiente para caracterizar um Diabetes Tipo 1 ou Tipo 2. É um sinal de alerta do corpo
Fonte: Ministério da Saúde
Há tratamento?
Quando iniciaram-se as investigações em torno do assunto, o tratamento que se usava para o diabetes tipo 5 consistia em modificação da dieta e dosagem de insulina. Contudo, conforme explica a médica Ticiana Rodrigues, percebeu-se que esses métodos não funcionavam de modo adequado a longo prazo. E, na maioria das vezes, os pacientes vinham a óbito.
Espera-se que o reconhecimento da doença amplie os esforços para encontrar terapias eficazes. Para os especialistas, essa classificação por parte do IDF visa justamente incentivar as discussões sobre a doença e ampliar os estudos.
— O motivo dos pesquisadores trazerem isso a tona e renomear para diabetes tipo 5 é para chamar atenção da sociedade. Os estudos que se tem ainda são muito iniciais, assim como os investimento para o tratamento. É mais como um alerta — opina Ticiana.
Até o momento, não foram compartilhadas pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) diretrizes sobre o diagnóstico e o tratamento da doença. O diabetes associado à desnutrição também não é citado em documentos da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Fernando Valente, diretor da entidade, declara que, no Brasil, por exemplo, não há dados de prevalência de diabetes tipo 5.
— Na verdade, esse tipo de diabetes é desconhecido aqui — reflete.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Rio Grande do Sul (SBEM-RS) aguarda uma orientação oficial por parte do IDF. Além disso, pondera que mais investigações são necessárias para que seja possível realizar uma conduta adequada.
— Há três pontos que precisamos levar em consideração: temos que aguardar o posicionamento oficial do IDF, aguardar mais estudos sobre o tema e debater sobre como vamos lidar com isso aqui no Brasil, já que nós não temos dados técnicos sobre o diabetes tipo 5 — diz a endocrinologista Letícia Weinert, presidente eleita da SBEM-RS.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Andrey Popov / stock.adobe.com
Outras notícias
-
Queda de idosos pode ter consequências graves, alertam especialistas
Maioria dos acidentes ocorre no quarto ou no banheiro Cerca de 62 mil internações de idosos foram registradas nos primeiros quatro meses deste ano no Brasil, após episódios de queda. Além disso, os atendimentos ambulatoriai ...
Saiba Mais -
Dívidas em atraso com financeiras e contas básicas aumentam no RS; veja como sair dessa situação
Alta no custo de vida, encarecimento do crédito e endurecimento no acesso a financiamentos têm peso nesse processo, segundo especialistas Com inflação persistente e juro básico no topo, a inadimplência segue avançando no Rio Grande do Sul. Com 42,10% da popu ...
Saiba Mais