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Matrículas no Ensino Superior crescem 2,5% em 2024, impulsionadas pelo EAD

  • Data: 07/Out/2025

Censo divulgado pelo Inep aponta redução de 0,5% no número de alunos em cursos presenciais e aumento de 5,6% na modalidade a distância

Divulgado nesta segunda-feira (22), o Censo da Educação Superior 2024 sinaliza um crescimento de 2,5% no número de matrículas em graduações na comparação com 2023. O aumento é puxado pela modalidade a distância, que registrou acréscimo de 5,6% na quantidade de alunos. Já os cursos presenciais tiveram uma redução de 0,5% no total de matriculados.

Entre os ingressantes – aqueles que iniciaram a graduação no ano – houve ampliação de 1% nas matrículas no ensino a distância (EAD) e queda de 1% no formato presencial, também em comparação a 2023. A participação percentual dos ingressantes em cursos EAD atingiu 66,8% em 2024.

Rodrigo Capelato, diretor executivo do Semesp, entidade que representa mantenedoras de Ensino Superior no Brasil, ressalta que, apesar de ainda registrar crescimento em 2024, a modalidade EAD teve uma expansão muito inferior ao registrado entre 2020 e 2022, quando as médias anuais chegavam a 20% de aumento no número de alunos.

— Isso talvez denote uma saturação, porque esse modelo pega principalmente um público mais velho e, talvez, uma demanda toda reprimida foi atendida e ele passa a não crescer nos mesmos moldes — analisa Capelato.

Rede privada

A concentração de alunos na rede privada é alta: essas instituições detêm 79,8% do total de matrículas em graduação. Em um ano, o número no setor cresceu 3,2%, enquanto a rede pública registrou uma leve queda de 0,2%. Em 2024, a rede privada também foi responsável por 95,8% do total de vagas ofertadas para ingresso em cursos de graduação.

— A relevância das instituições particulares de Ensino Superior na democratização do acesso às graduações se tornou uma constante ao longo dos anos. No caso da EAD, desde 2017 a modalidade tem sido o grande motor do ingresso no Ensino Superior. O que chama atenção agora é que, nos últimos três anos, esse movimento deixou de ser crescente e passou a se estabilizar. Em 2024, podemos estar diante de um platô do crescimento da EAD — pontua Janguiê Diniz, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).

Capelato defende que, ainda que esteja crescendo, o número de matrículas em graduações deveria ganhar celeridade:

— A gente tem crescido pouco ainda, e deveríamos crescer muito mais, tanto é que a taxa líquida de escolarização ainda é baixa, está na casa de 22,9% e ajustada a 27%. Ou seja, estamos falando que somente 17% dos jovens de 18 a 24 anos completaram o Ensino Superior ou estão matriculados no Ensino Superior na faixa etária adequada.

Para o diretor executivo do Semesp, essa realidade existe porque o ensino presencial, que é mais atrativo para os mais jovens, ainda que tenha estancado a queda no número de matrículas que vinha sofrendo até 2022, não cresce “porque há falta de políticas de acesso, maior política de financiamento estudantil, de bolsa permanência e assim por diante".

Com a nova regulamentação do EAD, a tendência, na opinião do diretor-presidente, é que o formato semipresencial “ganhe protagonismo” a partir de 2025, o que demandará investimentos em tecnologias e infraestrutura por parte das instituições.

— Pode haver, sim, uma redução no número de ingressantes, em um primeiro momento, porque as mudanças regulatórias devem impactar no valor médio das mensalidades, mas é preciso aguardar para observar se esse efeito se confirma na prática — projeta Diniz.

A média brasileira foi de 1,7 aluno em instituições privadas para cada estudante matriculado em uma graduação pública. No Rio Grande do Sul, a média foi um pouco inferior: 1,5 aluno na rede privada para cada um na pública. A maior média foi em Rondônia, onde havia 3,8 estudantes em cursos privados para cada matriculado em uma instituição pública. Já a menor média foi no Rio Grande do Norte, com 0,6 aluno na rede particular para cada inscrito na pública.

Ascensão dos bacharelados

Em relação ao grau acadêmico, os cursos de bacharelado continuam concentrando a maioria dos ingressantes (54,7%). O número de matrículas nesse tipo de curso cresceu 2,3% entre 2023 e 2024, enquanto licenciatura e tecnológico registraram reduções de 2,8% e 1,9%, respectivamente.

Segundo Diniz, os dados mostram uma busca maior por cursos de graduação de maior densidade acadêmica, como os bacharelados, em detrimento das licenciaturas, “que já sofrem retração há algum tempo, muito em função da falta de incentivos governamentais”.

— Esse quadro começa a mudar agora, com novas políticas para valorizar a formação de professores, por exemplo. Já os cursos tecnológicos respondem de forma cíclica às demandas do mercado: em alguns momentos crescem, em outros recuam. Os bacharelados, por sua vez, mantêm uma regularidade que ajuda a explicar o destaque atual. O desafio é tornar licenciaturas e cursos tecnológicos mais atrativos, tanto pelo mercado de trabalho quanto pelo reconhecimento institucional — comenta o diretor-presidente da ABMES.

Capelato pontua que o aumento na procura por bacharelados concomitante à redução do interesse em licenciaturas e tecnólogos ocorre há muitos anos, porque “no Brasil há um problema de desvalorização desses modelos”.

— No caso das licenciaturas, sobretudo porque a profissão de professor está muito desvalorizada, seja porque a remuneração é baixa, mas também pelas condições de trabalho. A gente sabe que a estrutura para que o professor consiga exercer a sua profissão é precária, nas escolas tem um monte de problemas: violência, de insegurança, estrutura familiar dos alunos, sobretudo no ensino público. Então, tudo isso combinado faz com que as pessoas não se sintam atraídas por essa carreira — afirma o diretor executivo do Semesp.

No caso dos tecnológicos, Capelato considera que há um preconceito no Brasil sobre esses cursos, por serem de menor duração e não tão tradicionais:

— Isso é um problema, porque nos países desenvolvidos eles representam quase metade das matrículas no Ensino Superior, e eu acho que haveria a necessidade de se repensar uma política de valorização desses cursos, uma campanha de esclarecimento, talvez um financiamento específico. Mas há uma necessidade de uma política pública de valorização desses cursos, porque eles são hoje vistos como de menor valor em relação aos bacharelados.

No cenário de concluintes, a queda mais acentuada entre os graus acadêmicos ocorreu nos cursos de licenciatura, que registraram decréscimo de 11,5% no número de formados entre 2023 e 2024. Já os cursos de bacharelado também apresentaram redução, de 2,8%, na quantidade de concluintes. 

Perfil da rede

O Brasil conta com 2.561 instituições de Ensino Superior, sendo 2.244 privadas e 317 públicas. Embora as universidades representem apenas 8% desse total, concentram 53% das matrículas de graduação.

Em 2024, havia 374.501 docentes em exercício em cursos de graduação, divididos igualmente entre as redes pública e privada. Na rede privada, o perfil mais comum era feminino, com média de 43 anos, titulação de mestrado e regime de trabalho parcial. Já na rede pública predominava o perfil masculino, também com média de 43 anos, mas com doutorado e atuação em tempo integral.

Nos cursos presenciais, 63,7% dos professores possuíam doutorado. Na modalidade a distância (EAD), a maioria era composta por mestres (46%).

Fonte: Zero Hora

Foto: smolaw11 / stock.adobe.com

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