Número de idosos inadimplentes cresce 26,3% em cinco anos no RS
Em agosto de 2025, o Rio Grande do Sul tinha 762.236 pessoas acima dos 60 anos de idade com dívidas em atraso
Cada vez mais idosos não conseguem pagar todas as contas em dia no Rio Grande do Sul. O total de pessoas com idade acima dos 60 anos inadimplentes cresceu 26,3% em cinco anos anos no Estado, segundo levantamento da Serasa.
Em agosto de 2025, o Rio Grande do Sul registrou 762.236 pessoas acima dos 60 anos de idade em situação de inadimplência. O montante é o maior total desde 2020. Entre os grupos de idade pesquisados pela entidade, o avanço dos inadimplentes é maior no grupo dos idosos.
Segundo especialistas, alguns dos motivos para esse movimento são:
- Aumento nos gastos com saúde;
- aposentadoria com valores abaixo do necessário;
- avanço do crédito consignado para esse público; e
- golpes.
Especialista em finanças pessoais da Serasa Thiago Ramos destaca uma alta na busca por empréstimos consignados nessa faixa etária durante a pandemia. Esse movimento ocorreu porque, com a diminuição da renda, aumento do desemprego naquele período, essas pessoas se tornaram o apoio principal de muitas famílias.
— E agora, nós vemos uma permanência desse comportamento. A procura e a facilidade pelo crédito consignado por essa faixa etária ajuda também a aumentar esse número, porque inevitavelmente alguns deixam de pagar essa conta. Também tem os fatores macroeconômicos, como a inflação, que corrói o poder de compra, principalmente do consumidor.
Os idosos têm menos acesso a outras fontes de renda, segundo Ramos, o que afeta as formas de conseguir dinheiro. Com isso, o consignado acaba sendo uma das poucas alternativas de recurso extra, devido à facilidade e taxa menor.
Outros dados
- No total, o Estado contava com 3,681 milhões de inadimplentes em agosto
- Este total cresceu 18,2% entre 2020 e 2025
- No país, o grupo acima de 60 anos também cresce acima das demais faixas, mas mostra salto maior do que o registrado no Estado (43,9%).
Renda insuficiente
O achatamento da renda também aparece entre os principais movimentos citados por especialistas para explicar o crescimento na população idosa inadimplente.
Wendy Haddad Carraro, educadora financeira e professora dos cursos de ciências contábeis e economia da UFRGS, afirma que o custo de vida dos idosos vem aumentando nos últimos anos.
— O idoso acaba tendo uma renda fixa, com um ou dois salários mínimos, e esse valor acaba não acompanhando o ritmo da inflação de alguns itens. Não tem reajuste, um bônus, algum tipo de incentivo. Estamos verificando um aumento muito forte nos alimentos, nos medicamentos, além de outras contas básicas, como luz, água. Se acontece algum gasto que não estava previsto, o que ocorre? Compromete o orçamento mensal, gerando mais atrasos ainda nas contas.
O presidente da Federação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Estado do Rio Grande do Sul, José Pedro Kuhn, também levanta esse ponto:
— Hoje, 70% dos nossos aposentados recebem um salário mínimo. A média dos benefícios é muito baixa. Então, o primeiro fator é esse. O benefício é pequeno. Segundo, tem os golpes e a ajuda à família, que acabam provocando o endividamento. O idoso muitas vezes acaba emprestando o nome para empréstimos para filhos, netos, e a família acaba não tendo um planejamento sobre isso.
Maria Alice Rodrigues, professora da Escola de Direito da Unisinos e coordenadora da iniciativa de Apoio às Famílias Superendividadas na universidade, em parceria com o Poder Judiciário, afirma que esse aumento no número de idosos inadimplentes se reflete na atuação do órgão:
— Depois da pandemia, aumentou significativamente o número de pessoas idosas que nos procuram e que comparecem nos acolhimentos. Isso, inclusive, nos levou a tomar algumas medidas no projeto. Uma delas é promover uma vez por mês atendimentos direcionados somente aos idosos.
O dado
- O levantamento considera inadimplente a pessoa que deixou de pagar a dívida no período estipulado.
- Normalmente as empresas tentam negociar com o cliente antes de incluir o nome na Serasa e dão um prazo para que a conta seja paga, segundo a instituição.
Dicas dos especialistas para evitar ou sair da inadimplência
- Mapeie suas contas mensais e entenda a sua realidade financeira. Ao colocar todas as despesas fixas e dívidas no papel ou em uma planilha, você consegue entender a real capacidade de pagamento, identificar com clareza para onde o dinheiro está indo e evitar descontrole das dívidas.
- Evite usar o crédito como uma ferramenta corriqueira para extensão da renda.
- Por exemplo, use o cartão de crédito com disciplina e sempre de acordo com seu orçamento.
- Redobre a atenção com empréstimos de juros elevados, que podem criar uma dívida impagável em pouco tempo. Antes de aceitar qualquer oferta, converse com familiares, amigos e especialistas para tentar entender melhor o real impacto dos juros no orçamento.
- Use o empréstimo consignado com cautela. Embora pareça seguro por ser descontado direto no salário, é preciso ter clareza sobre o impacto de longo prazo.
- Desconfie de ofertas fáceis e tente se proteger de golpes. Fique com o pé atrás diante de ofertas muito fáceis. Propostas que parecem boas demais e fora da realidade muitas vezes escondem condições abusivas ou golpes.
- Se já está inadimplente, busque ajuda de órgãos especializados em apoio ao consumidor em situação de superendividamento (confira alguns abaixo). Muitos deles são gratuitos.
- Busque renegociar dívidas de médio e longo prazo que não cabem mais no bolso para tentar condições melhores de pagamento e de acordo com a sua realidade atual.
- Ao tentar renegociar dívidas e organizar o orçamento, priorize o pagamento de contas essenciais para a sobrevivência e o bem-estar, como aluguel, luz, medicamentos e alimentação.
Onde buscar apoio
Balcão do consumidor – UFRGS
Serviço gratuito busca auxiliar pessoas em questões ligadas ao direito do consumidor e de negociação de dívidas sem a necessidade de judicialização. Os organizadores também criaram um Núcleo de Apoio ao Superendividado (NAS).
- Local: entrada da Biblioteca da ONU, no andar térreo da Faculdade de Direito, na Avenida João Pessoa, 80, no Centro Histórico da Capital.
- O serviço é oferecido às quartas-feiras, das 14h às 18h30min.
- Contato: informações e orientações sobre quais documentos levar em cada situação e agendamentos podem ser obtidas por meio do e-mail balcaodoconsumidor@ufrgs.br.
Balcão do consumidor - PUCRS
O serviço, fruto de convênio entre PUCRS e Procon-RS, realiza atendimento aos cidadãos e empresas (na condição de consumidoras) em assuntos envolvendo relação de consumo. Casos de superendividamento também podem ser encaminhados
- Local: o atendimento aos consumidores é presencial e ocorre toda quarta-feira, entre as 11h30min e as 13h30min e das 16h às 18h, no prédio 11, segundo andar do campus (Avenida Ipiranga, 6.681, Porto Alegre).
- Agendamento: após agendamento prévio, pelo telefone 51 3353-7945, o consumidor deve comparecer pessoalmente e deve estar portando documentos que comprovem a relação de consumo (notas fiscais, ordem de serviço, contratos, faturas do serviço, protocolos de atendimento), documento de identificação e comprovante de residência.
Apoio às Famílias Superendividadas - Unisinos
Parceria entre Unisinos e o Tribunal de Justiça do Estado busca contribuir para a superação da situação de superendividamento, com preservação do mínimo existencial, e a garantia de direitos.
- Atendimento: o primeiro acolhimento ocorre em grupo, quinzenalmente, às terças-feiras, 14h, no Foro da Comarca de São Leopoldo. Após essa primeira reunião, as pessoas aptas a seguir no projeto, participam de uma entrevista individual multidisciplinar para analisar as condições sociais e econômicas, as dívidas e os credores, as despesas com o mínimo existencial, e as condições para uma futura negociação. Os interessados precisam residir em São Leopoldo e ter renda até cinco salários mínimos.
- Contato: 51 3591-1122 (ramais 1481 e 1487), WhatsApp (99770-6418) e e-mail projetoapoio@unisinos.br
Câmara de conciliação – Defensoria Pública
Presta apoio a cidadãos que buscam negociar e quitar dívidas sem a necessidade de processo judicial. O serviço é gratuito.
- Local: Rua Múcio Teixeira, 110, sala 505. O ideal é contatar via telefone ou e-mail para agendamento antes de ir ao local, para evitar fila.
- Contato: telefones (51) 2126-3045 e (51) 2126-3047, e-mail nomelimpo@defensoria.rs.def.br, e 129 (Alô Defensoria)
Fonte: GZH
Foto: Photo Sesaon / stock.adobe.com
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