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Pesquisadora de Stanford defende valorização do erro e abordagem

  • Data: 26/Ago/2025

Jo Boaler criou metodologia utilizada em duas em cada três escolas norte-americanas

Com índices baixíssimos de estudantes com níveis de aprendizagem de matemática adequados para a sua série, o Brasil enfrenta a necessidade de rever como os conteúdos são abordados em sala de aula. Em palestra no 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, iniciado em São Paulo nesta segunda-feira (25), a pesquisadora Jo Boaler, da Universidade de Stanford, apresentou a metodologia que embasou uma plataforma hoje utilizada em duas a cada três escolas norte-americanas, e que tem trazido bons resultados. 

Entre as conclusões, a professora alerta: para aprender matemática, o erro não deve ser evitado, e sim valorizado, e é preciso investir em uma abordagem multidimensional que vá além dos números.

— Os melhores momentos para o nosso cérebro são quando estamos com dificuldades e cometendo erros: é nesse momento em que ele está em chamas fazendo conexões cerebrais. Se você sempre acerta tudo, isso significa que o seu cérebro não está fazendo um bom exercício. Mas, nas salas de aula, esse período de luta normalmente não é valorizado pelos professores: em vez disso, eles valorizam o acerto. Precisamos trabalhar para mudar isso — analisa.

Um estigma a ser combatido é a ideia de que se nasce com ou sem um cérebro para matemática, segundo Jo. A aprendizagem é um processo: sempre que se aprende algo, se está formando novos caminhos cerebrais, conectando esses caminhos ou os fortalecendo.

— Ninguém nasceu com esses caminhos cerebrais matemáticos. Nós os estamos desenvolvendo sempre que aprendemos — salienta a pesquisadora.

Conforme a docente, não apenas crianças e adolescentes, mas também adultos têm as suas vidas transformadas quando passam a se sentir confortáveis com essa “luta” que acontece quando se está tentando aprender algo muito difícil. O papel do professor, nesse processo, não é dar a solução para que o estudante saia desse “fundo do poço” onde ocorre essa luta, mas sim oferecer ferramentas para que ele próprio consiga sair.

Nesse sentido, Jo destaca a necessidade de mudar a mentalidade do aluno. Ela cita pesquisa ligada à neurociência, publicada na revista Psychological Science, que aponta que adultos com uma mentalidade (mindset) de crescimento – ou seja, que acreditam que conseguirão encontrar uma resposta se enfrentarem seus erros – fazem mais conexões cerebrais do que aqueles com uma mentalidade fixa, que acreditam que os conhecimentos e habilidades são inatos.

— Essa foi uma das primeiras evidências de que o que você acredita sobre você e sobre os seus erros vai realmente mudar como o seu cérebro funciona — resume a pesquisadora.

Mindset

Na plataforma criada pelos estudiosos de Stanford, YouCubed, aulas gratuitas online ensinam os alunos sobre esse mindset em seis sessões de 15 minutos. Em pesquisa com 1.090 estudantes que fizeram o curso, o resultado foi que eles se saíram melhor nas provas de matemática de suas escolas, e que 68% dos participantes tiveram frequência mais alta nas aulas dessa disciplina ao longo do ano. A plataforma já está disponível em português.

A mudança de mentalidade, no entanto, precisa ser suportada pelos professores.

— Você não pode simplesmente dar mensagens aos estudantes: você precisa realmente apoiar isso com o ensino e desenvolver o que os pesquisadores sobre mindset chamam de “cultura de mindset” — pontua Jo.

O grupo de neurocientistas de Stanford mapeou cinco camadas cerebrais que conseguem processar raciocínios matemáticos. No fundo do cérebro, são as camadas visuais.

— É muito importante que as crianças pensem visualmente sobre matemática. Quando nós pensamos matemática apenas como números, nós não estamos exercitando todas as camadas cerebrais e, por isso, estamos desenvolvendo apenas uma parte do cérebro. Imagens, gráficos, algoritmos, tabelas, todas essas diferentes experiências levam o cérebro a formar conexões incríveis — garante.

Durante a palestra, Jo demonstrou, com contas simples e elementos imagéticos, como é possível chegar a uma mesma conclusão usando diferentes recursos e lógicas. Em uma sala de aula, o exercício dessas formas diversas de se chegar a um resultado devem envolver canetinhas, tintas e cubos coloridos, de forma a tornar a experiência lúdica e atrativa.

A palestra de Jo Boaler foi a mesa de abertura do congresso, organizado pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca). A programação também contou com painéis sobre os impactos no Brasil do baixo desempenho em matemática, sobre as dificuldades de saber quantos são os alunos alfabetizados no país, o papel dos diretores, a função da imprensa em um cenário de democracia em crise e a relação entre educação e a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), além da apresentação de cases de jornalismo local e periférico.

Na terça-feira (26), a programação segue com mesas sobre assuntos como influenciadores e educação midiática, jornalismo e redes sociais e tecnologia na educação.

Fonte: GZH

Foto: Isabella Sander / Agencia RBS

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