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"Não perdi nada da minha juventude por ser católico": o que aproxima a igreja dos jovens

  • Data: 12/Ago/2025

Conheça as histórias de Guilherme, 26 anos, e Evylim, 28, que encontraram propósito nos ensinamentos do Evangelho

Foi um "chamado para estar perto de Deus" o que levou o advogado Guilherme Weber, 26 anos, a ingressar, ainda na adolescência, no Curso de Liderança Juvenil, popularmente conhecido como CLJ. O movimento eclesial voltado à formação de multiplicadores do Evangelho foi a porta de entrada do jovem no catolicismo.

 

Em uma década de CLJ, Guilherme construiu aquilo que denomina "projeto de vida", a base para o modo como planeja vivenciar sua existência. O principal tópico consiste em seguir os preceitos da Igreja Católica.

— O meu projeto de vida é me tornar um profissional, um marido e um pai cristão — resume o jovem. — A igreja fala muito sobre a busca das virtudes, que consiste em estarmos sempre vigilantes na missão de viver o mais próximo possível de Cristo — explica.

Guilherme deixou o CLJ em dezembro de 2023, quando atingiu a idade limite do movimento, de 25 anos, mas não abandonou as atividades paroquiais.

Hoje, é catequista no Santuário Nossa Senhora do Trabalho, em Porto Alegre, participa da organização dos eventos da comunidade e integra a comissão de juventude da Arquidiocese.

Quase todos os dias eu tenho algo para fazer, mas não vejo como um peso, vejo como parte da minha vida, porque a minha religião é parte de quem eu sou. Para mim, é importante estar envolvido com essas atividades. Quando não tenho nada relacionado à religião para fazer, sinto que falta alguma coisa.

GUILHERME WEBER, 26 ANOS

"Quem nos faz ficar é Cristo"

O CLJ também teve papel fundamental para a professora de matemática Evylim Fabris, 28 anos, que vem de uma família que sempre se considerou católica, mas não tinha a vivência do catolicismo como uma prática recorrente. 

Para ela, o atrativo inicial não foi necessariamente religioso. O que falava mais alto era o desejo de estar perto de amigos que também frequentavam os encontros do grupo, além da possibilidade de viver experiências longe do ambiente doméstico.

André Ávila / Agencia RBS

A professora de matemática Evylim Fabris, 28 anos, aproximou-se do catolicismo pelos amigos e ficou pela fé.André Ávila / Agencia RBS

A consolidação da fé ocorreu pouco a pouco, em um processo que a professora diz ser comum a quase todo jovem que ingressa na Igreja Católica por meio dos movimentos juvenis.

— Todo adolescente quer estar com outros adolescentes, então isso acaba sendo o primeiro atrativo. Comigo foi exatamente assim. Com o tempo, estar na igreja passou a fazer sentido também pela fé, não somente pelo convívio com os amigos. São eles que nos levam, mas quem nos faz ficar é Jesus Cristo — explica.

Hoje, Evylim atua como catequista, integra a comissão de juventude da Arquidiocese de Porto Alegre, representando o Vicariato de Gravataí, e mantém uma loja virtual destinada à venda de camisetas e moletons de temática católica, a EuKatólico.

A gente cria bases e princípios a partir da fé. Algumas coisas se tornam mais caras, outras perdem a importância. Hoje, sei o que quero e o que não quero que faça parte de quem eu sou justamente por conta da minha fé.

EVYLIM FABRIS, 28 ANOS

Professora de matemática

Perda de fiéis

Seguidores da Igreja Católica Apostólica Romana, Evylim e Guilherme se somam aos brasileiros que fazem do catolicismo a religião predominante do país. Ainda assim, a fé católica foi a que mais perdeu adeptos ao longo da última década.

No Censo realizado pelo IBGE em 2010, 65,1% da população do país havia declarado seguir a Igreja Católica. Já no levantamento de 2022, o percentual caiu para 56,7%. A redução de 8,4 pontos percentuais foi a maior registrada no período entre as religiões pesquisadas pelo Censo.

O declínio também é expressivo quando se observa especificamente a população com idades entre 15 e 29 anos, que o Estatuto da Juventude define como jovem.

O percentual de católicos nessa faixa etária era de 63,4% em 2010, caindo para 51,5% em 2022, uma diferença de 11,9 pontos percentuais. A redução foi maior no Rio Grande do Sul, com a proporção de jovens católicos recuando 14 pontos percentuais, de 67,6% para 53,6%.

Sentido para a vida

Para Evylim, os números não são motivo para alarmismo. A jovem acredita que a diminuição do rebanho católico, sobretudo entre os jovens, é um reflexo natural das mudanças pelas quais o mundo passou ao longo da última década, especialmente com a ascensão do imediatismo.

— Talvez os jovens já não tenham a mesma paciência para construir uma relação com Deus, porque vivemos em uma sociedade cada vez mais imediatista. Só que na fé as coisas não são tão imediatas assim, e isso muitas vezes acaba afastando o jovem da religião — analisa. — Por outro lado, a juventude nunca precisou tanto de algo que dê sentido para a vida. Percebemos que quando o jovem entra em um movimento católico, ele está em busca de um propósito — completa.

Para Guilherme, pesa também o modo como o catolicismo é encarado por parte da juventude, que associa a religião a fundamentos vistos como obsoletos. São questões como o casamento homoafetivo e a igualdade no acesso das mulheres ao sacerdócio — sensíveis para a religião, mas importantes para muitos jovens.

— Acho que existe uma noção de que o catolicismo está ultrapassado, e muitas pessoas não entendem as motivações de quem está dentro da religião. Eu mesmo já fui ridicularizado por conta do meu comprometimento, chamado de "beato" e "carola " — afirma. — A questão é que a Igreja Católica tem, sim, princípios que não serão modificados, mas nem por isso as portas estão fechadas. O papa Francisco tinha falas sempre muito felizes ao tratar desses tópicos que são mais contemporâneos, deixando claro que Deus ama a todos e quer a todos — conclui.

Busca pela santidade

Guilherme define a experiência de se deixar envolver pelo amor de Cristo como transformadora e afirma que, para ser católico, não é preciso deixar de ser jovem. Pelo contrário: é perfeitamente possível viver plenamente tanto a fé quanto a juventude, que não devem ser encaradas como elementos opostos.

— Jovens católicos saem para festas, vão na casa dos amigos para conversar, às vezes para beber, enfim, são jovens normais. Porém, as nossas amizades não são firmadas simplesmente no desejo de sermos amigos, mas de sermos amigos em Cristo. A única diferença é que a gente festeja junto, mas também busca a santidade junto — detalha.

Neste ano, dois jovens serão canonizados pelo Vaticano, passando a ser considerados santos. Carlo Acutis, que faleceu aos 15 anos e ficou conhecido por usar a tecnologia para propagar o catolicismo, será o primeiro santo millennial da Igreja Católica. Já Pier Giorgio Frassati, jovem universitário que faleceu em 1925, aos 24 anos, é lembrado pela paixão pelos esportes e pelo trabalho de combate à pobreza.

Evylim enxerga Acutis e Frassati como bons exemplos de que é possível caminhar de acordo com os passos de Jesus Cristo sem precisar abdicar da própria juventude.

— Temos essas referências de jovens que viveram a vida que a gente vive e que buscaram a santidade no dia a dia, com as suas famílias, com os seus trabalhos, enfim, viveram uma santidade real. O nosso desafio é também sermos santos. Nem sempre será fácil, mas temos exemplos que nos mostram que é possível. A religião está aí para nos deixar melhores, para nos fazer entender que a nossa vida vale a pena e tem um propósito — diz.

Juventude saudável

Parte da jornada até a santidade consiste em viver o que Evylim e Guilherme definem como uma juventude saudável. Trata-se de passar por esta fase da vida longe dos vícios e dos excessos e agir em conformidade com os dogmas da religião. 

Evylim justifica:

— A vida é um dom de Deus, por isso merece ser bem vivida. Não precisamos abusar de substâncias que nos farão mal nem ter atitudes irresponsáveis para validar que somos jovens.

Quando conversou com a reportagem, a jovem estava imersa nos preparativos para seu casamento, realizado no final de julho. Aos 28 anos, relatou que se manteria virgem até o matrimônio que selaria a união com o então noivo, Uesley, também um jovem católico.

Para os dois, a castidade não é uma privação, mas uma virtude.

— A castidade vai muito além de não fazer sexo: é um compromisso com Deus, com o casamento e com a pessoa que vai viver isso contigo. Sexo não é um teste para saber se uma relação vai ser boa ou não, é algo especial, que deve ser guardado. Muitas pessoas julgam e rotulam quem decide viver a castidade, mas eu nunca me importei com isso — detalha Evylim.

Guilherme, que também é noivo, concorda com o ponto de vista. Para ele, viver de acordo com a doutrina da Igreja Católica faz com que se sinta completo:

— Não perdi nada da minha juventude por ser católico. Na verdade, sinto que ganhei. Sou feliz por viver uma juventude saudável. Não me apetece essa coisa de ficar mais velho e dizer que quando era jovem fazia isso e aquilo. Para mim, estar perto de Deus é a melhor experiência que eu poderia viver.

 

Fonte: GZH

Foto: Renan Mattos / Agencia RBS

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