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Espirros, coriza e olhos vermelhos? Saiba como prevenir a alergia ao pólen

  • Data: 11/Ago/2025

Médicos explicam tratamentos e oferecem orientações para enfrentar reações típicas da chegada da primavera

chegada da primavera costuma evocar flores, cores e renovação. Mas para milhões de brasileiros também inaugura uma temporada de espirros, olhos irritados e nariz escorrendo. As alergias sazonais provocadas pelo pólen se intensificam justamente quando o ar fica mais seco e as plantas retomam sua produção de partículas microscópicas — invisíveis, mas capazes de desencadear fortes reações alérgicas.

Segundo o alergista e imunologista Giovanni Di Gesu, do Hospital Moinhos de Vento, embora muita gente associe o problema ao pólen das flores, o maior causador de reações alérgicas são as gramíneas, plantas de vegetação rasteira que se espalham facilmente e têm pólen carregado pelo vento.

— Ao contrário do que se imagina, o pólen das flores, por ser mais pesado, não costuma viajar longas distâncias. Já o das gramíneas é leve e voa com facilidade, especialmente em dias secos e com vento. Ele se infiltra pelas vias respiratórias e desencadeia os sintomas mais comuns: rinite alérgica conjuntivite alérgica — explica o especialista.

Prevenção deve começar antes da primavera

O ideal, segundo Di Gesu, é que pacientes que costumam apresentar sintomas iniciem um tratamento preventivo antes da chegada da primavera, especialmente em regiões como o Sul, onde a sensibilidade ao pólen é maior por conta da vegetação predominante e da estação bem definida.

Essa prevenção pode incluir o uso contínuo de antialérgicos por via oral, colírios ou sprays nasais específicos. Mas é fundamental que o tratamento seja acompanhado por um especialista, sobretudo para evitar efeitos colaterais ou uso inadequado das medicações.

— Embora existam medicamentos de venda livre que sejam relativamente seguros, a automedicação não é recomendada. Se a pessoa suspeita que tem alergia ao pólen, o melhor é procurar um médico e fazer os testes alérgicos e exames laboratoriais necessários. O diagnóstico correto permite indicar o tratamento mais eficaz — alerta.

Como funciona a vacina para alergia

Além do controle com medicamentos, há um tratamento que pode atuar diretamente na causa da alergia: a imunoterapia específica, conhecida popularmente como vacina para alergia. Diferentemente de remédios que apenas aliviam os sintomas, essa abordagem tem efeito modificador e pode proporcionar alívio duradouro.

O tratamento consiste na aplicação regular de doses controladas do próprio alérgeno (nesse caso, o pólen), em concentrações crescentes e depois constantes, com o objetivo de "reeducar" o sistema imunológico. Esse processo é chamado de dessensibilização.

As vacinas atuam adormecendo as células que produzem histamina, a substância responsável pelas reações alérgicas. O sistema imunológico passa a reagir menos — ou até a não reagir — à presença do pólen. É um tratamento gradual, que leva meses ou anos, mas que pode mudar a qualidade de vida do paciente.

A imunoterapia é indicada principalmente para casos graves ou persistentes, e nem todo paciente pode recebê-la. Por isso, a avaliação individualizada é indispensável.

Como diferenciar alergia de resfriado?

Em tempos de nariz escorrendo e espirros, muita gente confunde os sintomas de alergia com os de um resfriado comum — o que pode atrasar o diagnóstico correto. Segundo Di Gesu, o que distingue um quadro do outro são os sinais sistêmicos.

— A alergia não causa febre, dores no corpo ou mal-estar. Já os resfriados vêm acompanhados desses sintomas. A alergia é mais localizada, e os sintomas respiratórios se manifestam com mais intensidade e persistência — detalha.

Quem precisa ficar mais atento?

Ao contrário de outras doenças respiratórias, a alergia ao pólen não escolhe faixa etária. Crianças maiores (na pré-puberdade), adolescentes e adultos são igualmente afetados. O que muda é a forma como cada organismo responde e a frequência com que os episódios ocorrem.

Pacientes com histórico de asma ou outras doenças respiratórias devem redobrar os cuidados, pois as crises alérgicas podem agravar quadros já existentes.

Além da medicação preventiva, o especialista recomenda evitar áreas com vegetação intensa, especialmente em dias secos e com vento, e manter os ambientes internos bem ventilados, mas com janelas fechadas durante picos de pólen — geralmente no início da manhã e no fim da tarde.

Cuidados com os olhos

A oftalmologista Núbia Vanessa dos Anjos Lima, do CBV Hospital de Olhos, em Brasília, explica que as conjuntivites alérgicas sazonais são comuns durante a primavera e o outono, quando há maior presença de partículas suspensas no ar — entre elas, o pólen.

Essas partículas, assim como a poeira, provocam irritação nas conjuntivas e podem desencadear um quadro alérgico nos olhos.

— Os pacientes costumam apresentar olhos vermelhos, coceira intensa, sensação de prurido e até inchaço nas pálpebras — afirma Núbia.

A oftalmologista observa que, em casos mais severos, o desconforto ocular pode até comprometer a qualidade da visão temporariamente.

— Algumas pessoas relatam dificuldade para enxergar por conta da vermelhidão e da irritação. O próprio ato de coçar os olhos agrava a inflamação e pode reduzir a acuidade visual naquele momento — alerta.

Tratamento ocular

O tratamento deve ser sempre orientado por um oftalmologista, com colírios específicos para o tipo de alergia apresentada. Núbia ressalta que, além do uso de medicamentos locais, pode ser necessário investigar a causa da alergia por meio de testes alérgicos. 

— Nem sempre o problema vem do ambiente. Pode estar associado a alimentos, medicamentos ou até produtos cosméticos, como pigmentos de sombra, rímel ou tinta de cabelo. Há muitos fatores possíveis, e é preciso investigar com cuidado — pontua.

uso inadequado de medicamentos oftalmológicos também preocupa. Corticoides oculares, por exemplo, são eficazes no alívio da inflamação, mas seu uso prolongado sem acompanhamento pode trazer sérias consequências.

— Esses colírios, quando usados de forma indiscriminada, podem causar glaucoma e catarata. É fundamental que o tratamento tenha acompanhamento médico, pois apenas o oftalmologista poderá identificar possíveis efeitos colaterais e ajustar a conduta — adverte.

Entre os grupos que devem ter atenção redobrada estão os usuários de lentes de contato. A presença de pólen e outras partículas no ar pode irritar ainda mais os olhos e agravar o quadro alérgico. 

— É preciso utilizar colírios lubrificantes adequados para lentes e observar se a lente em si não está sendo um fator agravante da alergia. Em alguns casos, é necessário até suspender o uso temporariamente — orienta.

Proteção para os olhos

Outro tipo comum é a conjuntivite de contato, que ocorre quando uma substância irritante toca diretamente a região ocular. Um exemplo: coçar os olhos com as mãos sujas de produto de limpeza. 

— Nesse caso, a reação pode ser mais abrupta. Já as conjuntivites alérgicas sazonais são crônicas, de início mais lento, mas com sintomas que se estendem por semanas — diferencia Núbia.

Ela ainda ressalta que só uma consulta oftalmológica completa pode distinguir a conjuntivite alérgica da infecciosa que, provocada por vírus ou bactérias, costuma ter secreção mais abundante, febre e outros sintomas associados. O diagnóstico correto é importante para definir o melhor tratamento, especialmente em crianças e idosos, que podem apresentar quadros mais delicados.

Por fim, a especialista recomenda o uso de barreiras físicas, como óculos de sol com proteção UV, bonés ou chapéus, para reduzir o contato direto com as partículas no ar. Mas faz uma ressalva:

— É importante que os óculos tenham lentes com procedência garantida e proteção ultravioleta verdadeira. Lentes sem certificação podem não proteger e ainda serem fonte de irritação ocular — completa.

Fonte: Gaúcha ZH

Foto: Jürgen Kottmann / stock.adobe.com

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