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Como identificar um relacionamento abusivo e ajudar uma vítima de violência doméstica?

  • Data: 04/Jul/2025

Suporte de pessoas próximas e da rede de proteção é essencial para quebrar o ciclo da violência que matou 31 mulheres entre janeiro e maio no RS; 26 não tinham medida protetiva

A maior parte das vítimas de violência doméstica, via de regra, não procura ajuda, segundo especialistas. A estimativa é de que as mulheres levem, em média, até 10 anos para conseguir romper o ciclo de violência. Mas o que fazer quando uma amiga ou familiar está em um relacionamento abusivo e e não consegue se perceber como vítima?

— Todos nós, enquanto sociedade, não só podemos como devemos denunciar esses atos de violência — alerta a delegada Tatiana Bastos, diretora do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil do RS. — Quanto antes ela pedir ajuda, maior a chance da gente conseguir interferir, não só enquanto polícia, mas enquanto rede, e evitar um desfecho como o feminicídio. O silêncio tem sido o maior cúmplice da violência — acrescenta. 

Zero Hora mapeou os 31 casos de feminicídios ocorridos entre janeiro e maio de 2025 no Estado para compreender as razões que levaram as vítimas a não conseguirem pedir ajuda— 26 delas não tinham solicitado medida protetiva. Entre os fatores, está especialmente a relativização da violência. Ou seja, a própria mulher e pessoas no entorno dela toleram atos de violência.

Em muitos casos, pessoas próximas à vítima, como familiares, amigos, vizinhos ou colegas de trabalho, ainda evitam se envolver por entender que é algo a ser resolvido pelo casal.

Há um entendimento de que é só briga de casal, que aquilo não é propriamente uma violência, que é assim que as relações conjugais se estruturam. Quando aquele fato está acontecendo, a minha vizinha está gritando, quebrando objetos, eu percebo, ouço ou vejo situações de violência, devo chamar imediatamente a Brigada Militar, pelo 190.

TATIANA BASTOS

Diretora do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis da Polícia Civil do RS

Além do 190 da Brigada Militar, os casos podem ser comunicados diretamente à Polícia Civil, tanto pela Delegacia Online (neste link), como pelo WhatsApp (51) 98444-0606

É possível fazer as denúncias de forma anônima e mesmo que a vítima não queira denunciar, já que a maior parte dos crimes envolvendo violência doméstica são de ação pública incondicionada. Cabe à polícia investigar o caso.

Mateus Bruxel / Agencia RBS

Delegada Tatiana Bastos e delegada Adriana Regina da CostaMateus Bruxel / Agencia RBS

— Ainda que essa vítima não esteja pronta ainda para a denúncia, a polícia tão logo tenha conhecimento desse fato começa a investigar. A gente só precisa ter acesso à informação. Se ela não for fazer um exame, por exemplo, de corpo de delito, a gente pode produzir o que a gente chama de corpo de delito indireto, com outras provas, como depoimentos, fotografias, vídeo monitoramento. É importante que a gente saiba que isso faz parte do ciclo: a vítima não procurar ajuda é a regra, não é a exceção — explica Tatiana.

 

Rede de proteção

Familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho fazem parte da rede de apoio dessa mulher. É fundamental que essas pessoas saibam a importância de ouvir, acolher e orientar a vítima sobre o risco que ela está correndo ao manter um relacionamento desse tipo.

Outras áreas, como saúde, educação, assistência social e a própria segurança pública fazem parte da rede de proteção, que deve ser estruturada e articulada. Os feminicídios registrados de janeiro a maio deste ano no RS ocorreram em 27 municípios. Desses, oito não contam com centro de referência da mulher.

Na esfera da segurança, todos possuem BM e Polícia Civil, mas 14 não tem delegacia especializada e, desses, sete não contam com Sala das Margaridas. Da mesma forma, em sete ainda não há Patrulha Maria da Penha.

A Lei Maria da Penha e toda a rede de proteção envolvida têm conseguido salvar muitas vidas. Mas é essencial que a gente consiga chegar nessa vítima, antes que essa violência chegue a um caso de feminicídio.

ADRIANA REGINA DA COSTA

Subchefe da Polícia Civil

— Quando ela chega ao sistema, onde a gente consegue traçar um plano de segurança para ela, a chance dela chegar à máxima expressão da violência de gênero, que é o feminicídio, é muito menor — ressalta a delegada Tatiana Bastos.

 

Comportamentos de alerta

Alguns comportamentos de alerta podem ser percebidos num relacionamento abusivo, mas muitas vezes são confundidos com proteção e afeto. 

É importante que não apenas a mulher que está em um relacionamento mas toda a sua rede de apoio consigam identificar atitudes violentas independentemente do grau de intensidade, para então pedir ajuda, para si ou para alguém que esteja passando por isso. 

Confira alguns delas:

  • Dar provas exageradas de amor no início da relação, o chamado love bombing. Quando o homem faz promessas de amor e ocupa todos os espaços de vida da mulher.
  • Isolar a mulher dos amigos e familiares (sua rede de apoio)
  • Convencer ou exigir que a mulher deixe de estudar e trabalhar, o que também é uma forma de isolamento
  • Regular a roupa que a mulher usa
  • Monitorar os locais aonde a mulher vai
  • Conferir o telefone da mulher, para saber com quem e sobre o quê ela conversa
  • Perseguir a vítima, esperando na saída do trabalhando, enviando reiteradas mensagens, e se alterando caso ela não atenda ou retorne
  • Desqualificar a mulher, como forma de reduzir sua autoestima

Possíveis caminhos

  • Educar sobre diferentes tipos de violência.
  • Incluir educação de gênero nas escolas.
  • Orientar que a culpa nunca é da vítima.
  • Criar espaços acolhedores para mulheres buscarem ajuda.
  • Capacitar profissionais para perceberem situações de violência.
  • No ambiente familiar, abordar o tema sem julgamentos.
  • Não abandonar essa mulher.
  • Ampliar possibilidade de as vítimas terem apoio psicológico.
  • Criar campanhas de encorajamento.
  • Incrementar estruturas de fiscalização das medidas protetivas.
  • Estruturar a rede de proteção nos municípios.
  • Esclarecer mulheres sobre leis que protegem a vítima e os filhos.

Fonte: Polícia Civil e Ministério Público

 

Como pedir ajuda

Brigada Militar – 190

  • Se a violência estiver acontecendo, a vítima ou qualquer outra pessoa deve ligar imediatamente para o 190. O atendimento é 24 horas em todo o Estado.

Polícia Civil

  • Se a violência já aconteceu, a vítima deverá ir, preferencialmente à Delegacia da Mulher, onde houver, ou a qualquer Delegacia de Polícia para fazer o boletim de ocorrência e solicitar as medidas protetivas.
  • Em Porto Alegre, a Delegacia da Mulher na Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências).
  • As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há DPs especializadas no Estado. Confira a lista neste link.

Delegacia Online

  • É possível registrar o fato pela Delegacia Online, sem ter que ir até a delegacia, o que também facilita a solicitação de medidas protetivas de urgência.

Central de Atendimento à Mulher 24 Horas – Disque 180

  • Recebe denúncias ou relatos de violência contra a mulher, reclamações sobre os serviços de rede, orienta sobre direitos e acerca dos locais onde a vítima pode receber atendimento. A denúncia será investigada e a vítima receberá atendimento necessário, inclusive medidas protetivas, se for o caso. A denúncia pode ser anônima. A Central funciona diariamente, 24 horas, e pode ser acionada de qualquer lugar do Brasil.

Defensoria Pública – Disque 0800-644-5556

  • Para orientação quanto aos seus direitos e deveres, a vítima poderá procurar a Defensoria Pública, na sua cidade ou, se for o caso, consultar advogado(a).

Centros de Referência de Atendimento à Mulher

  • Espaços de acolhimento/atendimento psicológico e social, orientação e encaminhamento jurídico à mulher em situação de violência.

Ministério Público do Rio Grande do Sul

  • O Ministério Público do Rio Grande do Sul atende o cidadão em qualquer uma de suas Promotorias de Justiça pelo Interior, com telefones que podem ser encontrados no site da instituição.
  • Neste espaço é possível acessar o atendimento virtual, fazer denúncias e outros tantos procedimentos de atendimento à vítima. Para mais informações clique neste link 

Fonte: Zero Hora

Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS

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