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Dívidas em atraso com financeiras e contas básicas aumentam no RS; veja como sair dessa situação

  • Data: 25/Jun/2025

Alta no custo de vida, encarecimento do crédito e endurecimento no acesso a financiamentos têm peso nesse processo, segundo especialistas

Com inflação persistente e juro básico no topo, a inadimplência segue avançando no Rio Grande do Sul. Com 42,10% da população gaúcha nessa situação em maio, o recrudescimento das dívidas em atraso em financeiras e em contas básicas, com destaque para telefone e internet, chama a atenção. 

Aumento no custo de vida, encarecimento do crédito e endurecimento no acesso a financiamentos estão entre os pontos que ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.

Em maio deste ano, as dívidas em atraso com utilities — contas como energia elétrica, água e gás — e telecom — que pega telefonia e internet ocupavam 17,15% dos débitos pendentes de inadimplentes no Estado, segundo dados da Serasa. 

Em maio do ano passado, esse percentual era menor, 16,15%. O repique ocorre após queda em 2024 (veja no gráfico).

No caso das financeiras, o salto é ainda maior, passando de 17,02%, em maio do ano passado, para 18,53% em maio deste ano.

Inadimplência no RS

Cenário com inflação e juro em patamares elevados afeta poder de compra e dificulda pagamento de dívidas em dia

Percentual de dívidas em atraso com contas básicas

Esse grupo pega itens como luz, água, gás, telefone e internet. Avanço neste ano foi puxado, principalmente pelo ramo de telecom

Thiago Ramos, especialista em finanças pessoais da Serasa, afirma que o avanço do aperto financeiro acaba se espraiando para as contas básicas. Em pesquisas realizadas pela entidade, o desemprego e a diminuição de renda estão entre os principais pontos que forçam o cidadão a escolher qual conta vai pagar. 

Como alguns desses débitos contam com um espaço de tempo maior até o corte, os consumidores vão jogando com o atraso, segundo Ramos.

Às vezes, o consumidor não tem a conta cortada no primeiro mês de atraso. Varia de Estado para Estado, de empresa para empresa. Muitos conseguem atrasar duas, pagam a terceira, dessa forma ele tenta equilibrar as contas de uma maneira não saudável, mas é o recurso que fica disponível para alguns consumidores.

THIAGO RAMOS

Especialista em finanças pessoais da Serasa

Olhando apenas as utilities, o percentual de inadimplência ficou praticamente estável, indo de 10,05% para 9,51% nesse período de um ano. 

Já o ramo de telecom saltou de 6,10% para 7,63% no período. O especialista em finanças pessoais da Serasa afirma que esse aumento no grupo que pega telefonia e internet ocorre em razão da maior oferta de prestadores de serviço:

— O telecom é um serviço onde o consumidor pode procurar outras operadoras. Não somente as principais, mas também as regionais. Então, se ele se negativa com uma, ele consegue ainda em pouco tempo, contratar o serviço de outra. E, como é difícil pagar as contas em dia, isso também leva a um aumento da inadimplência nas telecoms.

Olhando outros segmentos principais na inadimplência, bancos e cartões de crédito (28,33%)serviços (15,43%) e varejo (9,27%) têm destaque. No entanto, apresentaram leve queda ante o percentual verificado no ano passado. Já o índice geral de inadimplência atingiu 42,10% em maio, reforçando tendência de alta no indicador.

Inflação e juro

Wendy Haddad Carraro, educadora financeira e professora do curso de Ciências Contábeis e de Economia da UFRGS, afirma que o avanço da inadimplência ocorre na esteira de inflação ainda alta, que diminui o poder de compra, e do juro, que pressiona ainda mais as dívidas dos cidadãos. Com isso, a dificuldade em honrar as contas em dia acaba avançando sobre itens e serviços de primeira necessidade:

— Esse conjunto de juros mais altos, inflação persistente e redução do poder de compra, somado aos impactos dos eventos climáticos, acaba gerando uma instabilidade econômica, especialmente aqui na nossa região.

Financeiras

O aumento da inadimplência em dívidas com financeiras tem como pano de fundo um ambiente econômico marcado por ciclo de alta do juro básico, que afeta o acesso a crédito e empréstimos. Com dificuldade maior em conseguir esses serviços com bancos maiores, que restringem as linhas para evitar inadimplência, operadoras menores ganham espaço, segundo o especialista em finanças pessoais da Serasa:

— Quando ele não consegue no banco tradicional, ele vai para a financeira. É uma instituição que não é um banco, porém, emite cartão de crédito, empresta dinheiro, muitas vezes de valores menores a juros maiores.

A professora Wendy afirma que, como parte desses negócios oferecem os empréstimos com taxas mais elevadas, alguns clientes acabam se atrapalhando na hora de organizar as contas em um cenário com Selic elevada.

O juro é muito mais alto do que a taxa comum de um banco mais tradicional. E às vezes, as famílias não têm outra alternativa a não ser fazer realmente isso. E aí a gente vai ter um efeito bola de neve, porque uma pessoa pode ter diferentes formas de pegar esse tipo de crédito.

WENDY HADDAD CARRARO

Educadora financeira e professora do curso de Ciências Contábeis e de Economia da UFRGS

—  Digamos, ela pode usar o cartão de crédito, ela pode fazer um empréstimo pessoal, pode usar o cheque especial e ela ainda pode fazer os consignados. Então por isso há esse movimento de alta da inadimplência nas financeiras — acrescenta.

Efeito na economia

Com a população demonstrando dificuldade em pagar as contas em dia e o acesso ao crédito estrangulado, a atividade econômica também sente os efeitos, segundo economistas. Setores como o varejo e o de serviços sofrem com a diminuição no número de consumidores com crédito na praça.

— Fica mais difícil também, vamos dizer assim, transacionar no mercado tradicional, justamente porque o consumidor não tem acesso a empréstimos ou cartões e quando tem é com um limite menor e juros maiores — destaca o especialista em finanças pessoais da Serasa.

Como organizar as finanças

A pedido da reportagem de Zero Hora, a professora Wendy Haddad Carraro separou algumas dicas para tentar contornar a situação de inadimplência. A especialista destaca a necessidade de mapear todas as contas e de buscar auxílio dentro desse processo. 

Veja algumas das sugestões:  

  • Antes de qualquer coisa, mapeie suas principais contas mensais, separando despesas obrigatórias de itens com menor necessidade. Ter uma noção mais detalhada dos débitos facilita na organização.
  • Coloque na ponta do lápis as contas em atraso, separando por valor do débito, taxa de juro e prazo de pagamento.
  • Com todas essas informações em mãos, busque negociação com os credores, priorizando as contas em atraso com valores maiores.
  • Em caso de acordo, antes de fechar, tenha certeza que o valor da parcela vai caber no orçamento para evitar bola de neve e piora na inadimplência.
  • Evite usar alternativas com juros elevados, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito.
  • Procure ajuda de órgãos e especialistas que oferecem serviços de educação financeira. Uma consultoria nesse momento pode ajudar na tomada de decisão e atitudes e acordos mais assertivos.
  • Procure feirões, como os organizados pela Serasa, para tentar negociar e renegociar dívidas.

Fonte: GZH

Foto: Jefferson Botega / Agencia RBS

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