Por que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte entre as mulheres?
Esta quarta-feira marcou o Dia Nacional de Conscientização das Doenças Cardiovasculares nas Mulheres, data que busca alertar para a importância da prevenção
— Assim como têm o seu ginecologista, as mulheres devem ter também o seu cardiologista de referência — defende a médica Ana Paula Tagliari.
Doutora em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora na mesma instituição, a profissional justifica a orientação com base no cenário alarmante de incidência de doenças cardiovasculares entre mulheres.
O termo compreende complicações cardíacas e venosas diversas, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto, trombose e insuficiência cardíaca, entre outras.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), 35% dos óbitos decorrem de complicações desta categoria, o que faz das doenças cardiovasculares a principal causa da morte de mulheres em todo o mundo, com 8,5 milhões de óbito a cada ano — cerca de 23 mil ao dia.
Esta quarta-feira (14) marca o Dia Nacional de Conscientização das Doenças Cardiovasculares nas Mulheres. A data foi instituída pelo Senado Federal em 2022, a partir de um esforço de médicos, universidades e sociedades de cardiologia de todo o país.
— É uma data jovem, mas muito importante. O objetivo é acender um alerta nas mulheres, para que se conscientizem de que não basta só cuidar da saúde ginecológica, pois a saúde cardiovascular é tão importante quanto — explica Ana Paula.
Fatores de risco
Mas, afinal, por que tantas mulheres morrem em decorrência de doenças cardiovasculares? Para o médico Luis Beck da Silva Neto, professor da UFRGS e presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (Socergs), o problema começa pelo errôneo senso comum de que este tipo de complicação é restrita aos homens.
Conforme o cardiologista, há uma prevalência de doenças cardiovasculares entre indivíduos do gênero masculino, mas o cenário está longe de ser confortável às mulheres.
— A diferença é pequena e, em determinadas faixas etárias, essa prevalência cai por terra. Por exemplo, entre 40 e 45 anos, a gente tem um pico de AVC entre as mulheres. Neste momento da vida, mulheres têm mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares do que homens. E geralmente elas começam a se preocupar com a saúde cardiovascular mais tarde, justamente porque quando a gente pensa nessas doenças, a gente pensa em homens — diz o especialista.
Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares por pessoas de qualquer gênero estão:
- obesidade
- sedentarismo
- tabagismo
- má alimentação
- alta ingestão de ultraprocessados e alimentos gordurosos
Outro ponto importante é o histórico familiar, que pode ser determinante para medir as chances de alguém desenvolver uma doença cardiovascular. O presidente da Socergs defende que todos busquem investigar a própria genealogia clínica e, em caso de histórico negativo, adotem hábitos que ajudem a minimizar esse peso.
— Às vezes a gente se depara com pacientes que têm história familiar, fumam, não tem hábitos saudáveis e tomam anticoncepcional. Essa combinação é explosiva. É assim que a gente vê mulheres de 40 anos já fazendo cirurgia cardíaca e procedimentos complexos — observa.
Uso de anticoncepcionais
No caso das mulheres, há o incremento de fatores de risco que são restritos ao gênero. Neste grupo entram quadros clínicos como a hipertensão e o diabetes gestacional e a síndrome dos ovários policísticos, por exemplo.
O principal fator de risco exclusivamente feminino é o uso de anticoncepcionais hormonais. Os contraceptivos a base de hormônios como o estrogênio aumentam de forma considerável as chances de desenvolver doenças cardiovasculares de caráter trombótico.
— O risco é ainda maior quando esses medicamentos são utilizados de forma contínua durante a vida da mulher, da adolescência até depois dos 40 anos. É algo cada vez mais comum, porque as mulheres estão iniciando a contracepção cada vez mais cedo. E em muitos casos, esse risco ainda é potencializado por fatores como o tabagismo e os maus hábitos — diz o presidente da Socergs.
Como, então, manter a contracepção sem agravar o risco para doenças cardiovasculares? A cardiologista Ana Paula Tagliari diz que o primeiro passo é buscar orientação médica.
A médica explica que tomar anticoncepcional hormonal não traz à mulher uma sentença de complicação cardiovascular, mas que o uso deve ser feito de forma estratégica, com base no histórico individual de cada paciente. Por isso, o melhor é jamais iniciar um medicamento por conta própria.
— É muito importante que, antes de iniciar uma contracepção hormonal, a mulher procure o médico antes e veja qual é o método mais adequado para ela. Se tiver outros fatores de risco importantes, não é aconselhado somar mais um anticoncepcional, porque a chance de desenvolver um quadro de trombose, por exemplo, será grande. Porém, se ela não tiver nenhum outro fator associado, o contraceptivo oral não precisa ser encarado de forma tão temerosa — detalha a médica.
Como alternativas, a médica cita os dispositivos intrauterinos de cobre e hormonal — o chamado DIU Mirena. Enquanto o primeiro é totalmente livre de hormônios, o segundo promove uma liberação local de progesterona, que traz menos riscos à saúde.
— Essa liberação local praticamente não tem efeito adverso sistêmico. A grande diferença é essa, porque, com o contraceptivo em forma de comprimido, o hormônio vai circular por todo o corpo, enquanto o hormônio do Mirena fica restrito ao útero — diz Ana Paula.
Prevenção
Conforme os médicos, o melhor tratamento para as doenças cardiovasculares é sempre a prevenção. Algo que inclui prática de exercícios físicos, boa alimentação, ciclos de sono adequados e a inclusão de exames e consultas cardiológicas na rotina de cuidados anuais de saúde.
Conforme a médica Ana Paula Tagliari, o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares entre as mulheres começa a aumentar após os 35 anos. A partir desta idade, é ideal que a mulher já tenha ido ao cardiologista ao menos uma vez.
O médico Luis Beck da Silva Neto também destaca a importância de uma vida livre de tabaco:
— Se a mulher tabagista quiser ter uma atitude que possa mudar a história da vida dela, essa atitude será parar de fumar. Da mesma forma, começar a fumar é a pior decisão que uma pessoa pode ter.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: jajam_e / stock.adobe.com
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