Avanço tecnológico aprimora cirurgia para tratar de doença de Parkinson
Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, passou a realizar a operação utilizando um sistema robótico de imagem de forma inédita na América Latina
Há mais de duas décadas, a cirurgia moderna da doença de Parkinson vem transformando o prognóstico dos pacientes que convivem com a condição. Aliado aos avanços tecnológicos, o procedimento ajuda a melhorar os três principais sintomas da condição neurodegenerativa, que não tem cura — tremor, rigidez e lentidão.
Para aprimorar ainda mais os resultados e a recuperação dos pacientes, o Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, passou a realizar essa operação utilizando um sistema robótico de imagem transoperatório, o chamado Loop-X Brainlab. A cirurgia inédita na América Latina ocorreu em novembro.
Alexandre Reis, especialista em Distúrbios do Movimento e neurocirurgião funcional do Hospital Moinhos de Vento, explica que a cirurgia moderna do Parkinson foi instituída a partir de 2002 e é chamada de implante de eletrodo cerebral profundo — nome oriundo da sigla DBS (Deep Brain Stimulation).
Melhoras expressivas
Conforme o médico, o procedimento foi um grande marco revolucionário no tratamento da doença porque consegue melhorar de forma muito expressiva os sintomas em pacientes em fases moderadas e avançadas, para os quais se tem poucos recursos medicamentosos.
— Antes dos anos 2000, tínhamos um prognóstico muito sombrio para os pacientes. Depois de 10 anos de doença, não tínhamos muitos recursos para utilizar e, hoje, temos o advento da cirurgia, que melhora os três sintomas principais: tremor, rigidez e lentidão — reforça Reis.
De acordo com o neurocirurgião, uma das peculiaridades dessa cirurgia é o fato de sempre ter sido aliada à tecnologia, já que se trata de um procedimento de alta precisão. A operação tem como instrumento principal um aparelho chamado de estereotaxia, que vai se modernizando com o passar das décadas para que fique mais preciso e mais fácil de usar, melhorando o resultado.
Paciente acordado
Outra característica do procedimento, segundo Reis, é a necessidade de, na maioria das vezes, ser realizado com o paciente acordado. Isso ocorre porque é preciso ter a colaboração da pessoa operada, seja para conversar ou para “testar” movimentos. Por isso, é importante que a cirurgia seja cada vez mais aprimorada e agilizada, ressalta o médico:
— Se a cirurgia demora 10 horas com um paciente anestesiado, ele não percebe, não faz diferença para ele. Mas se demora 10 horas com um paciente acordado, é muito cansativo e desgastante. Existe um desgaste físico muito grande para um paciente que já é debilitado.
O especialista destaca que o recente investimento do Moinhos no aparelho Loop-X tem justamente esse objetivo, já que se trata de uma tomografia portátil transoperatória, que oferece uma imagem “extremamente detalhista”, é muito pequena e se move de forma bastante ágil. Além disso, não sai da sala cirúrgica.
— Para fazer essa cirurgia, precisávamos colocar um aparelho de estereotaxia, que é como se fosse uma coroa, na cabeça do paciente e fazer uma tomografia. Isso, na imensa maioria dos serviços do mundo inteiro, é feito fora do bloco cirúrgico. E aí tem que levar o paciente para a tomografia, botar o aparelho, fazer a tomografia e encaminhá-lo para o bloco. Às vezes, nessa logística, perdemos uma hora ou, se dá atrasos, duas horas. Quando temos o aparelho dentro do bloco, fazemos tudo em um momento só — esclarece Reis.
Além de reduzir o tempo de cirurgia, o aparelho traz benefícios em termos de conforto e de resultado, conforme o neurocirurgião. Isso porque diminui o desgaste do paciente e colabora para um passo que não é feito rotineiramente: uma segunda tomografia durante a operação para conferir se o eletrodo ficou no lugar certo.
Indicação
De acordo com o especialista, existem protocolos de indicações — que são flexíveis e envolvem uma série de pré-requisitos — para a cirurgia de Parkinson. Entre esses critérios, estão: ter uma evolução de, no mínimo, cinco anos de doença, perda do efeito dos medicamentos ou surgimento de complicações motoras, menos de 75 anos e boas condições de saúde.
O resultado da cirurgia, afirma Reis, varia de acordo com cada paciente. Aqueles que tiverem sintomas mais avançados terão benefícios diferentes daqueles que buscaram o procedimento depois de cinco anos, por exemplo.
— Nesses casos, o benefício é muito melhor. E boa parte deles fica até sem sintomas. Não percebemos os sintomas quando opera no momento certo. Mas a estatística é em torno de 70% ou 80% da melhora do tremor, 60% ou 70% de melhora da rigidez e da lentidão — comenta o especialista.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Hospital Moinhos de Vento / Divulgação
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