Proibidos pela Anvisa, implantes estéticos não têm eficácia comprovada
Técnicas polêmicas atraem adeptos famosos e pessoas comuns com promessas de resultados rápidos
Na busca por fórmulas mágicas que prometem transformar a aparência e devolver a juventude, muitas pessoas acabam recorrendo a alternativas que combinam ciência e mito. Entre as promessas mais comentadas está o polêmico “chip da beleza”, um implante hormonal que ganhou fama por prometer resultados rápidos, como perda de peso e redução de celulite. Contudo, por trás do desejo de alcançar o milagre da beleza, surgem alertas preocupantes sobre os riscos à saúde e a falta de comprovação científica.
A ginecologista Florence Zanchetta Coelho Marques, médica cooperada da Unimed Porto Alegre, alerta que, diferentemente dos implantes hormonais aprovados para contracepção, o “chip da beleza” não possui registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Produzido em farmácias de manipulação, ele carece de controle rigoroso de sua composição.
Em novembro, a Anvisa proibiu a manipulação, comercialização e uso desses implantes para fins estéticos, esportivos ou de ganho muscular. Composto normalmente pelo hormônio sintético gestrinona, o produto tem sido divulgado como um auxiliar no combate ao envelhecimento, na perda de peso e na melhora do desejo sexual.
— Em alguns casos, há uma associação de substâncias nestes implantes, como medicações para diabetes e hipotireoidismo, testosterona, ocitocina, vitaminas e até medicações para disfunção erétil — informa a médica.
Segundo Florence, não existem estudos científicos que comprovem a eficácia e a segurança desses implantes. Apesar disso, ele atrai principalmente mulheres em busca de resultados estéticos rápidos, mesmo após mais de 30 sociedades médicas brasileiras solicitarem a proibição de seu uso e com as novas regras da Anvisa.
— Devemos questionar a conduta dos profissionais que não se atentam aos princípios da boa prática de medicina, da falta de ética na comercialização e introdução destes implantes — avalia Florence.
Outra proposta que movimenta o mercado da estética é a soroterapia, popularmente conhecida como “soro da beleza”. As aplicações intravenosas de combinados de nutrientes, como aminoácidos e vitaminas, prometem trazer benefícios para a pele e aumentar a imunidade. Porém, a dermatologista Cíntia Pessin alerta que o procedimento não é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pode causar intoxicação, náuseas e vômitos.
— A suplementação endovenosa, para pessoas com carência desses nutrientes, tem protocolo de infusão e doses bem estabelecidas, o que não ocorre com o soro da beleza, que não tem qualquer padronização de composição — ressalta a médica cooperada da Unimed Porto Alegre, que ainda alerta que o uso em excesso das substâncias presentes no soro pode favorecer o surgimento de doenças renais, cardiovasculares e até mesmo câncer.
Mitos e verdades sobre “chip da beleza” e soroterapia
O “chip da beleza” favorece o emagrecimento
Mito. A ginecologista Florence Zanchetta Coelho Marques ressalta que não há como saber exatamente quais substâncias estão presentes no implante, já que o processo de confecção é artesanal e não regulamentado. Nas mulheres jovens, magras e praticantes de atividade física, pode haver ganho de massa muscular, perda de peso e redução da celulite, mas sempre há o risco de efeitos contrários.
O “chip da beleza” pode ser rejeitado pelo organismo
Verdade. Pode ocorrer infecção no local de introdução do implante e alguns efeitos adversos podem ocorrer em graus variáveis e em várias partes do organismo.
A soroterapia aumenta a imunidade
Mito. Não há qualquer evidência científica sobre esse benefício e a dermatologista Cíntia Pessin alerta que o produto não deve ser utilizado com essa finalidade.
O “chip da beleza” causa queda de cabelo
Verdade. O aumento da quantidade de hormônios pode afetar o couro cabeludo e causar queda em diferentes níveis.
A soroterapia auxilia no ganho de massa muscular
Mito. Não há qualquer evidência de benefício e não deve ser utilizado para quem procura este resultado.
O “chip da beleza” aumenta a libido feminina
Mito. A resposta sexual feminina tem influência biopsicossocial e está relacionada a questões pessoais, qualidade dos relacionamentos, status psicológico, fatores circunstanciais e assertividade do casal. Em alguns casos, o uso de hormônios pode promover melhora da libido, mas na maioria dos casos são outros os fatores associados ao seu comprometimento.
Qualquer pessoa pode utilizar a soroterapia
Mito. O procedimento é contraindicado na ausência de deficiência de vitaminas ou carência nutricional comprovada por meio de exames médicos.
O “chip da beleza” também tem ação anticoncepcional
Mito. Embora a gestrinona, hormônio presente no implante, tenha ação antiovulatória, não há ação anticoncepcional comprovada para essa substância.
A soroterapia melhora o aspecto de unhas e cabelos
Mito. Não há evidências científicas sobre esses benefícios.
O “chip da beleza” pode causar efeitos colaterais irreversíveis
Verdade. Alguns efeitos colaterais do uso excessivo das substâncias presentes no implante são a alteração da voz e o aumento do clitóris.
Fontes: Florence Zanchetta Coelho Marques, ginecologista, e Cíntia Pessin, dermatologista, médicas cooperadas da Unimed Porto Alegre
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: Celso Pupo / stock.adobe.com
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