Qual a diferença entre hemorragia, aneurisma e AVC
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisou passar por uma cirurgia de emergência para drenagem de hematoma
A hemorragia cerebral, uma condição médica que acontece quando um vaso sanguíneo no cérebro se rompe, provocando sangramento, foi a causa da internação emergencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de segunda-feira (9).
Conforme boletim médico, Lula passou por uma craniotomia para drenagem do hematoma e passa bem. Os médicos envolvidos no atendimento acreditam que a complicação esteja relacionada ao acidente doméstico sofrido pelo presidente em outubro.
Horas após a cirurgia, a equipe médica informou que ele já estava acordado e não apresentava sequelas. Para Sheila Martins, Chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, o prognóstico positivo está relacionado à localização do sangramento:
— Em um primeiro momento, quando se fala em sangramento cerebral, dentro do tecido cerebral, geralmente é muito grave — explica a médica.
No caso de Lula, o sangramento não estava dentro do cérebro, mas sim, na parte externa do órgão. Esse tipo é chamado de hematoma subdural. O mesmo quadro levou o ator Tony Ramos à internação em maio deste ano.
— Quando é ao redor do cérebro, o que ele faz é comprimir. Quando aliviado, ele descomprime o cérebro e a pessoa realmente recupera 100%. É mais simples, o cuidado é realmente ver se ele (o paciente) não vai precisar de uma nova intervenção.
Esse tipo de complicação reforça a importância de compreender as causas, sintomas e diferenças entre hemorragias cerebrais, aneurismas e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), muitas vezes tratados como se fossem a mesma condição.
O que é AVC?
O acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame, é uma condição médica que exige atenção imediata. Ele ocorre quando é interrompido o fluxo de sangue para uma parte do cérebro, privando o tecido cerebral de oxigênio e nutrientes essenciais.
Isso pode resultar em danos cerebrais significativos ou até mesmo a morte. A pronta identificação dos sintomas, o conhecimento dos fatores de risco e a compreensão das medidas preventivas e opções de tratamento são cruciais para reduzir os riscos associados ao AVC.
Existem dois tipos de acidente vascular cerebral. A condição é considerada isquêmica quando acontece um entupimento no vaso sanguíneo provocado por trombose ou embolia. Já o hemorrágico é quando um vaso se rompe, provocando sangramento no cérebro.
Quais são os sintomas do AVC e como identificá-lo
Os sintomas do AVC podem surgir repentinamente e incluem fraqueza ou dormência no rosto, braço ou perna, especialmente em apenas um lado do corpo, além de dificuldade para falar ou entender, visão turva ou perda de visão e dor de cabeça intensa sem causa conhecida.
Pacientes também podem apresentar dificuldades para andar, tontura, ou perda de equilíbrio e coordenação. A identificação rápida desses sinais e a busca imediata por atendimento médico ajudam a reduzir as possíveis sequelas.
Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Como identificar:
O AVC surge de repente, dando pouca chance de a pessoa perceber que está prestes a ser afetada. No momento em que acontece, porém, dá sinais claros. São cinco os principais. Ao sentir qualquer um desses sintomas, a orientação é chamar o Samu (192). Perceber que o derrame está acontecendo é fundamental porque, a cada minuto que passa, o cérebro vai sofrendo com a morte de neurônios e das conexões entre eles, causando sequelas mais graves.
Sinais de alerta:
- Perda de força, formigamento ou dormência na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo
- Confusão, dificuldade para falar ou compreender o que os outros estão dizendo
- Dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos
- Tontura, falta de coordenação repentina ou alteração no andar
- Dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente
Tipos de AVC
Há dois tipos de AVC, isquêmico e hemorrágico
AVC isquêmico
Responsável por 85% dos casos, ocorre pela obstrução dos vasos sanguíneos em uma artéria cerebral, fazendo com que o sangue deixe de chegar ao cérebro
AVC hemorrágico
Ligado a quadros de hipertensão arterial, é causado pela ruptura de um vaso sanguíneo no cérebro, levando o sangramento para o interior do órgão
Como tratar:
A primeira e mais importante parte do tratamento é identificar os sintomas com rapidez e procurar atendimento médico. Até cerca de quatro horas após o início do derrame, no caso do AVC isquêmico, pode ser administrado um medicamento que dissolve o coágulo e normaliza o fluxo sanguíneo em direção ao cérebro, diminuindo o risco de sequelas.
Consequências
Os sintomas e as consequências do derrame são os mesmos. Dificuldade na fala, paralisação de parte do corpo e perda de memória estão entre as mais frequentes, mas a gravidade dos sintomas varia dependendo da área afetada e da extensão da lesão cerebral. Alguns obstáculos, como os motores ou de linguagem, porém, podem ser minimizados e até superados.
Convivendo com a doença
Sobreviver a um AVC deve acender o alerta por mudanças no estilo de vida, para evitar complicações relacionadas à doença – inclusive seu retorno, já que o derrame cerebral é muito mais frequente em pacientes que já sofreram com ele. Alimentar-se bem, praticar exercícios e manter pressão, colesterol e triglicerídeos sob controle ajudam a evitar também o agravamento dos fatores de risco relacionados ao problema.
Como prevenir:
É importante controlar os fatores de risco, como hipertensão arterial, colesterol alto e diabetes. Recomenda-se também parar de fumar e não consumir álcool em excesso, fazer atividades físicas regularmente e consumir alimentos com baixo teor de sal e gordura. As doenças cardíacas são outra importante causa do AVC.
- 90% dos pacientes com AVC têm mais de 55 anos
- 70% das pessoas não retornam ao trabalho após um AVC devido às sequelas
- 50% ficam dependentes de outras pessoas no dia a dia
- Uma a cada seis pessoas no mundo terá um AVC ao longo de sua vida, segundo estimativa da Organização Mundial de AVC
- Quem sofreu AVC uma vez tem nove vezes mais risco de ser afetado pelo problema novamente
O que fazer em caso de AVC
O tratamento varia, a depender da condição específica, mas deve ser iniciado o mais rápido possível. AVCs isquêmicos podem ser tratados com medicamentos que dissolvem o coágulo de sangue ou procedimentos para restaurar o fluxo sanguíneo cerebral, em que o coágulo é removido por cateterismo.
Já os hemorrágicos podem necessitar de cirurgia para controlar o sangramento e reduzir a pressão intracraniana. Muitas vezes, o procedimento inclui uma craniotomia, cirurgia que abre um pedaço do crânio para facilitar o acesso às outras partes do encéfalo.
A recuperação varia conforme a gravidade e o tempo de resposta, podendo incluir terapias de reabilitação. Alguns pacientes podem apresentar limitações permanentes, ainda que tratáveis, como dificuldades motoras, prejuízos à fala e perda de memória.
— A recuperação de um AVC varia em cada caso, mas pode levar tempo e precisar de alguns tipos de terapia, como fisioterapia e fonoaudiologia, e acompanhamento com um cardiologista — afirma o cardiologista Roberto Yano.
Quais são os fatores de risco do AVC e como prevenir
Fatores como idade avançada, histórico familiar de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, colesterol alto, tabagismo e obesidade aumentam o risco de AVC. As chances são mais altas após os 55 anos e em pessoas com histórico familiar.
Cerca de 90% dos casos poderiam ser prevenidos com cuidados básicos, segundo a Organização Mundial do AVC. Manter uma dieta balanceada, praticar exercícios, evitar álcool e tabaco, além de monitorar as condições de saúde que aumentam os riscos de AVC são medidas preventivas fundamentais.
Exames periódicos de check-ups são ainda mais importantes em pacientes com histórico familiar de doenças cardiovasculares.
Hemorragia, AVC e aneurisma são a mesma coisa?
A hemorragia é o que acontece no cérebro com o AVC hemorrágico. O sangramento pode causar inúmeras sequelas e até mesmo a morte, caso o tratamento não seja realizado com a agilidade necessária.
Diferenciar hemorragia cerebral de aneurisma cerebral é crucial. Enquanto a hemorragia é o sangramento provocado pelo rompimento de um vaso sanguíneo, um aneurisma é a dilatação anormal de um vaso sanguíneo, que pode romper e causar hemorragia posteriormente.
Aneurismas podem ser congênitos ou adquiridos devido a fatores como hipertensão ou trauma — e não se resumem ao cérebro. Um dos tipos mais comuns de aneurismas, inclusive, é o que acontece na artéria aorta abdominal.
Manter um estilo de vida saudável, controlar a pressão arterial, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, além de praticar exercícios físicos regularmente, são fatores que podem auxiliar na prevenção desses quadros.
Fonte: Gaúcha ZH
Foto: stock.adobe.com / 462670848
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