Três municípios da Serra registram redução superior a 80% no número de mortes violentas em 2024
Outras 17 cidades também apresentaram diminuição nas ocorrências ou sequer tiveram casos neste ano; a estatística compara os registros até outubro deste ano com o mesmo período em 2023
Dos 49 municípios da Serra, 17 apresentam reduções nos indicadores criminais de mortes violentas em 2024. Três deles já reduziram em mais de 80%. A estatística compara o montante de janeiro a outubro deste ano com igual período do ano passado. Carlos Barbosa tem queda de 88%, enquanto que Guaporé, de 83%, e Flores da Cunha, 80%. Os dados comparativos de janeiro a outubro nos dois anos foram divulgados pelo governo do Rio Grande do Sul:
- Carlos Barbosa: 9 mortes em 2023; 1 em 2024 (-88,8%).
- Guaporé: 18 em 2023; 3 em 2024 (-83,3%).
- Flores da Cunha: 5 em 2023; 1 em 2024 (-80%).
Em Carlos Barbosa, o delegado titular da Delegacia de Polícia Civil, Marcelo Ferrugem, explica que a elucidação dos crimes e a condenação dos envolvidos em casos de outros anos são os fatores que auxiliaram nesta queda.
— Neste ano, tivemos dois júris: o primeiro condenou os autores dos homicídios que aconteceram no ano passado a mais de 70 anos (de prisão) e o último condenou pelo menos seis indivíduos a penas que, somadas, ultrapassaram 150 anos de prisão, pelos homicídios consumados e tentados em 2021. Com essa resposta, as facções acabam avaliando até onde compensa estabelecer essa disputa por pontos de tráfico aqui em Carlos Barbosa — afirma Ferrugem.
Conforme o delegado, devido a ameaças a policiais, alguns líderes de facções criminosas foram transferidos para outros Estados, em penitenciária com sistema de bloqueio telefônico e sem direito a visitas. Essa dissuasão dos mandantes também ajudou na queda dos números.
As mesmas estratégias de combate aos grupos criminosos organizados foram adotadas pela Polícia Civil em Guaporé. Conforme o delegado Tiago Lopes de Albuquerque, no município a queda foi graças ao monitoramento permanente às facções instaladas na região. Além disso, com o apoio da Brigada Militar, ocorreram ações constantes com apreensões de drogas e armas.
— As apreensões geram prejuízos aos grupos criminosos e acabam os desorganizando. Importante dizer também que dos quatro homicídios consumados, três estão esclarecidos, com autores presos, e o quarto com adiantadas investigações.
Os três homicídios já solucionados em Guaporé ocorreram nos meses de fevereiro e agosto. O quarto foi no mês de novembro, onde Dênis Maia dos Santos, de 22 anos, foi a vítima.
Outros municípios da Serra que tiveram reduções na comparação de janeiro a outubro de 2023 com o mesmo período de 2024
- Caxias do Sul: de 85 para 67 (-21%).
- Farroupilha: 14 para 6 (-57%).
- Gramado: 3 para 1 (-66%).
- São Francisco de Paula: 4 para 2 (-50%).
- São Marcos: 6 para 5 (-16%).
- Serafina Corrêa: 4 para 2 (-50%).
- Vacaria: 19 para 13 (-31%).
- Esmeralda, Jaquirana, Nova Prata, Picada Café, São Jorge e São José dos Ausentes tiveram mortes registradas em 2023, mas não ocorreram casos em 2024.
Cidades pequenas na rota do tráfico
O professor universitário especializado em Ciências Sociais Charles Kieling destaca que as cidades como Carlos Barbosa, Guaporé e Flores da Cunha estão na rota das facções criminosas para a logística de entrega de produtos ilícitos:
— O objetivo das facções é ter rotas limpas para a logística segura de tráfico de armas, munições, joias, dinheiro. Enfim, elas estão localizadas em entroncamentos com grandes metrópoles, como Caxias e Porto Alegre.
A diminuição dos números nesses locais, segundo o especialista, é devido a uma coalizão entre as facções criminosas, definindo que determinada região é comandada pelo grupo A ou B. Também porque em cidades pequenas o número de integrantes de facções é menor, na visão deles é mais "rápido" para um grupo dissipar a outra organização criminosa e dominar aquele ponto. Ainda na visão de Kieling, o envio de líderes das organizações para outros presídios não auxilia na redução direta dos números de mortes, mas acabaria protegendo os envolvidos nos crimes.
Kieling acredita que a segurança pública, para o próximo ano, precisa tomar medidas que compreendam conhecimento científico e técnico, além de aplicar metodologias para diminuir o número de facções no Estado. Para isso, o especialista acredita que só o trabalho e os dados levantados pela polícia não são suficientes. Entende que é necessário ter órgãos da sociedade envolvidos nas discussões e ações.
Fonte: Pioneiro / Gaúcha ZH
Foto: Guilherme Kalsing/Estação FM / Divulgação
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