Psicólogo explica como o diagnóstico de câncer de mama pode afetar a saúde mental dos pacientes
Richard Avila detalha como lidar com o emocional após a descoberta da doença e como isso pode influenciar na eficácia na luta contra a doença
Receber o diagnóstico de câncer de mama pode ser um momento difícil para muitas mulheres, gerando um misto de emoções negativas que podem variar desde medo, raiva, pânico e tristeza profunda.
De acordo com o psicólogo Richard Avila, mestre em Ciências da Saúde e fundador do Espaço Terapêutico Nosco, localizado em Porto Alegre, entender como o cérebro reage ao câncer pode ser crucial para enfrentar esse desafio emocional de forma mais equilibrada.
O profissional explica que práticas de autocuidado, apoio social e manejo das expectativas são fundamentais para atravessar a jornada com mais resiliência.
— Apesar do impacto emocional intenso que o câncer provoca, o cérebro possui uma incrível capacidade de adaptação, conhecida como neuroplasticidade, que pode ser treinada para lidar melhor com o estresse — afirma Avila.
As emoções que surgem logo após o diagnóstico variam de pessoa para pessoa, mas o psicólogo destaca alguns sentimentos comuns. O medo e a ansiedade são muito presentes. O temor com relação ao tratamento e ao futuro são reações naturais diante da percepção de ameaça, explica o psicólogo. Essas associações estão ligadas à amígdala, estrutura do cérebro responsável pela ativação da ansiedade.
Segundo o especialista, outra reação muito presente é a negação. Para muitas pessoas, o cérebro tenta bloquear a realidade do diagnóstico como um mecanismo de defesa emocional.
— A negação é uma tentativa de reduzir o impacto do choque inicial — afirma.
Avila ressalta que essas são respostas biológicas do sistema nervoso, que busca entender ou justificar uma situação. A percepção de perda, seja da saúde ou das rotinas, é um gatilho comum para a tristeza e a depressão, estados que, segundo o psicólogo, podem estar ligados ao desequilíbrio de neurotransmissores, como a serotonina. No entanto, ele reitera que é possível reverter esses padrões emocionais com as estratégias corretas.
Fortalecer o emocional
A neurociência oferece diversas estratégias para ajudar as pacientes a enfrentarem o diagnóstico de forma mais saudável. O psicólogo cita três pilares principais:
- Mindfulness: Prática da atenção plena que busca melhorar a conectividade entre as áreas do cérebro responsáveis pela regulação emocional, no intuito de ajudar a reduzir a ansiedade e aumentar a resiliência.
- Exercícios físicos: A atividade física estimula a produção de dopamina e serotonina, neurotransmissores essenciais para o bom humor. Além disso, reduz a resposta ao estresse, aliviando a pressão emocional que o câncer exerce.
- Apoio social: O suporte de familiares e amigos é crucial.
Avila também alerta que sintomas depressivos podem ser um alerta para a necessidade de uma intervenção mais intensiva, como, por exemplo, acompanhamento psiquiátrico e medicamentoso.
O câncer de mama pode também afetar a autoestima e a imagem corporal das pacientes. Com isso, surgem estratégias como a reestruturação cognitiva, linha de pensamento que busca fazer o paciente reconhecer sua patologia e entender o processo de tratamento, buscando uma maior consciência das mudanças corporais que surgirão.
— Começamos a nos preparar para lidar com os pensamentos do tipo "sou defeituoso", "eu causei isso", "eu mereço isso que estou vivendo". O propósito desse conjunto de técnicas é modificar a forma de pensar para algo mais realista, como "estou passando por um tratamento", "nada do que eu tenha feito causou isso, coisas ruins acontecem", "ninguém merece ter câncer, vou superar" — relata o psicólogo.
Além dessas práticas, o profissional também recomenda a terapia cognitivo-comportamental, realizada com psicólogos, que auxilia na identificação e modificação de pensamentos negativos, melhorando a capacidade de enfrentar os desafios do câncer.
Enfrentando o tratamento
A forma como as pacientes encaram o tratamento também desempenha um papel importante na resposta ao câncer. Segundo Avila, tanto o efeito placebo — onde a expectativa positiva de melhora pode gerar benefícios — quanto o efeito nocebo — em que a expectativa negativa agrava os sintomas da doença — são fenômenos documentados pela ciência e devem ser examinados com atenção.
Esses reflexos ocorrem porque as expectativas afetam diretamente as áreas do cérebro responsáveis pela percepção de dor e estresse. Conforme Avila conclui, enfrentar o câncer de mama não se resume apenas aos tratamentos físicos, mas envolve cuidar do emocional, que pode ser um grande aliado no tratamento.
Fonte: Pioneiro / Gaúcha ZH
Foto: Elena / stock.adobe.com
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