O que as prefeituras da Serra estão fazendo para proteger a população de deslizamentos
Após inúmeros episódios em maio, administrações estão voltadas a mapear os municípios e as áreas de risco
Entre o levantamento da chuva de maio e a reconstrução de comunidades, municípios da Serra estão voltados a analisar melhor os próprios territórios. Os deslizamentos que atingiram a região ligaram o alerta sobre medidas de proteção à população, especialmente aquela que vive próxima as áreas que podem ser de risco. O trabalho parte justamente do mapeamento das zonas nas cidades.
Na Serra, municípios consultados pela reportagem afirmam que estão desenvolvendo trabalhos em relação a isso. Caxias do Sul, a maior cidade da região, iniciou o trabalho de mapeamento em 2007, como relata o geólogo Caio Torques, da prefeitura. O primeiro projeto, junto com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foi na área urbana. Houve uma atualização em 2012. Em 2022, o município recebeu a Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização, entregue pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). Ela engloba a área urbana e os seis distritos.
— Ele divide o município em unidades geotécnicas. Começa desde as unidades que são aptas à urbanização, as que têm média aptidão, as de baixa aptidão e as que são consideradas inaptas. Então, dá todo esse mapeamento e estabelece algumas diretrizes. Por exemplo, para a ocupação de uma área que tem média ou baixa aptidão à urbanização, que tipo de estudos eu preciso fazer? Que tipo de sondagem? Que tipo de escrituras, para que permita que essa área seja apta? — explica o geólogo.
Segundo Torques, o documento traz mapa de geologia, relevo, os tipos de solo e as áreas que estão suscetíveis a movimentos de terra. Com os episódios recentes, o geólogo diz que a prefeitura está estudando os locais onde ocorreram os deslizamentos para verificar em quais categorias elas estão na Carta Geotécnica de Aptidão à Urbanização. Ao mesmo tempo, um detalhamento destes pontos será feito.
— Em algumas áreas mais críticas tem que refinar a questão do risco, fazer um mapeamento. Daí é feita uma avaliação mais precisa e detalhada de lote a lote. Temos alguns mapas de risco que foram feitos nesse âmbito que foram para aquelas áreas que o município considerava prioritárias para fins de regularização fundiária, que são as áreas de ocupação irregulares — detalha o especialista.
Conforme Torques, parte da documentação já existente foi utilizada para o trabalho feito em Galópolis após os deslizamentos. O objetivo agora, como afirma o geólogo, é aumentar o banco de dados para evitar futuros eventos.
Núcleo de riscos geológicos
Em Bento Gonçalves, o Núcleo de Riscos Geológicos foi criado após os eventos de maio. Conforme a assessoria da prefeitura, na delimitação das áreas de riscos geológicos foram identificados 104 pontos de deslizamentos, que ocorreram em encostas de 400 a 500 metros de altitude. O objetivo do grupo também é detalhar o território e identificar os riscos. Este trabalho conta com profissionais da Geo Rio e Defesa Civil, do Rio de Janeiro, e do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) de Minas Gerais.
— Primeiro, laudar todas as estradas em que ocorreram desmoronamentos e as estradas principais do nosso interior, que tem interligação regional. Aí, depois, a gente volta para as comunidades. Esse é o trabalho que está sendo feito — afirma o prefeito Diogo Siqueira.
O objetivo é aumentar a segurança da população, de acordo com o prefeito. Depois do trabalho em Bento, o município quer levar o grupo às cidades vizinhas. Antes destes eventos, Bento Gonçalves tinha um mapa "nada tão específico como está sendo feito agora".
Em Farroupilha, o secretário de Urbanismo e Meio Ambiente, Nestor José Zanonato Filho, afirma que em primeiro lugar busca-se minimizar os impactos. Depois, a prefeitura pretende criar um planejamento a longo prazo para análise das encostas.
— Tínhamos mapeado alguns pontos logo depois do início do ano. Foi feito algum mapeamento pela nossa equipe de meio ambiente e de alguns pontos. Mas a gente não teve ainda a questão de mitigação. Até porque era possível o risco. Temos muitas áreas que ainda eram vegetadas que caíram da encosta — afirma Filho.
Após os episódios, outros municípios que iniciaram trabalhos geológicos foram São Marcos e Flores da Cunha. São Marcos contratou uma empresa especializada, enquanto Flores, de acordo com a assessoria da prefeitura, está organizando-se para esta contratação.
"No momento, as avaliações estão sendo conduzidas pelo corpo técnico da Secretaria de Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente e da Secretaria de Obras e Serviços Públicos", diz a nota. Conforme a assessoria, os trabalhos ocorrem em paralelo.
A reportagem procurou ainda os municípios de Veranópolis e Gramado, que também registraram deslizamentos, mas não recebeu respostas até a publicação desta reportagem.
Fonte: Pioneiro
Foto: Bruno Todeschini / Agência RBS
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