NIC 1, 2 e 3: entenda o grau de gravidade das lesões por HPV e saiba como se proteger
Anomalias pré-cancerígenas são comuns entre as mulheres e demandam atenção com a prevenção
O assunto ainda é tabu, mas estima-se que entre 50% e 80% da população sexualmente ativa vai ter contato, pelo menos uma vez na vida, com o vírus HPV — sigla para papilomavírus humano. No entanto, a maioria das infecções causadas por ele é transitória e será combatida espontaneamente pelo sistema imunológico, regredindo alguns meses depois.
Em alguns casos, o vírus pode ocasionar lesões graves e inclusive evoluir para o câncer. Alguns tipos são o câncer de vagina, vulva, pênis, garganta e — o mais frequente e preocupante entre as mulheres — o de colo uterino.
Existem mais de cem subtipos de HPV conhecidos, que são divididos em alto e baixo risco oncogênico. Os subtipos 16 e 18 são conhecidos pelo potencial alto de causar câncer de colo do útero, explica a ginecologista Camila Bessow. A doença merece mais atenção feminina pois é o terceiro tipo de câncer que mais acomete as mulheres brasileiras e o quarto tipo que mais mata.
— Muitas pessoas confundem o diagnóstico de infecção por HPV com o diagnóstico de câncer causado pelo vírus, mas são coisas diferentes. Na maioria das vezes, se a infecção tiver um bom acompanhamento médico, não evoluirá para o estágio de câncer. Tratando-se de colo uterino, na imensa maioria das vezes, a infecção demora anos até desenvolver um tumor invasivo. Mas existem lesões precursoras, chamadas de NIC 1, NIC 2 e NIC 3, que precisam ser acompanhadas — explica a médica.
NIC é a sigla para neoplasia intraepitelial cervical. Vale lembrar que o papilomavírus humano é transmitido na relação sexual, mas não necessariamente por meio da penetração, já que o contato pele a pele, entre os genitais, também é capaz de propiciar o contágio. Para prevenir as infecções por HPV, é recomendado o uso de preservativos e a vacinação.
Tipos de HPV
Se for causada por algum subtipo oncogênico de HPV, uma lesão no colo uterino pode tornar-se precursora de câncer. Elas são classificadas como NIC 1, NIC 2 e NIC 3, sendo que o nível de gravidade vai aumentando quanto maior forem as alterações nas células da região afetada.
Para se chegar ao diagnóstico de lesão, primeiro é preciso fazer o exame preventivo (o famoso papanicolau ou citopatológico). Se o resultado apontar alguma alteração, é feita uma biópsia na qual um fragmento do colo do útero é coletado e analisado, confirmando ou não a anomalia.
Segundo Camila, NIC 1 é considerada uma alteração leve e que na maioria das vezes regride sozinha, sem ser necessária qualquer intervenção. Já para as lesões NIC 2 e NIC 3, na maioria dos casos, será indicado um procedimento chamado conização, onde há a retirada de uma parte do colo uterino.
— As lesões NIC têm tratamento bem mais simples do que o câncer de colo do útero e é por isso que é tão importante a prevenção rotineira, para que seja possível detectar lesões iniciais e evitar a progressão para uma doença maligna — afirma a ginecologista.
Camila explica ainda que, entre as mulheres que já precisaram realizar a conização, poderá haver aumento do risco de parto prematuro:
— E quando o diagnóstico já é de câncer de colo uterino, tem uma repercussão maior ainda na vida da paciente, porque pode exigir a remoção do útero inteiro, quimioterapia e radioterapia.
Vacinação
A imunização de homens e mulheres é a estratégia mais importante contra o HPV, defendem ginecologistas e oncologistas, pois ajuda o sistema imunológico a combater o vírus com mais facilidade. No SUS, a vacina tetravalente contra o HPV é aplicada em meninos e meninas entre nove e 14 anos e em pessoas imunossuprimidas, transplantadas e com HIV. Já na rede privada, está disponível um imunizante nonavalente (contra os nove tipos mais comuns de HPV), recomendado para pessoas com até 45 anos.
— Em países onde há um esquema de vacinação há mais tempo, vê-se uma grande diminuição da incidência do câncer de colo de útero, mas no Brasil, infelizmente, ele ainda é o terceiro câncer mais frequente nas mulheres. É importante estimular a vacinação para conseguirmos diminuir essa incidência — explica Christina Oppermann, oncologista do Hospital Mãe de Deus.
A médica ainda ressalta a importância dos exames preventivos:
— Outra forma de prevenção é através do diagnóstico precoce, feito por meio da consulta ginecológica de rotina. Nem toda lesão pré-maligna vai se transformar num câncer de colo de útero, mas é preciso haver um acompanhamento e um tratamento adequado.
No Brasil, a cobertura vacinal contra o HPV ainda precisa avançar muito. A ginecologista Camila Bessow chama atenção para o fato de que, em 2022, foram registrados 17 mil novos casos de câncer de colo uterino e que nos postos de saúde, onde a vacina está disponível gratuitamente, a baixa procura faz com que haja ampolas sendo jogadas fora por estarem passando do prazo de validade.
— A vacina é segura e muito efetiva, pode e deve ser feita em homens e mulheres até os 45 anos. Em 2023, o Brasil recebeu a vacina Gardasil-9, que é nonavalente e, portanto, ainda melhor do que a vacina quadrivalente que estava disponível até então — afirma.
Quando uma pessoa tem uma infecção por HPV e se cura, detalha a ginecologista, ela adquire uma imunidade que é apenas passageira, ou seja, é possível que volte a ser infectada pelo mesmo subtipo de vírus posteriormente. Por outro lado, a vacina confere uma imunidade permanente contra alguns subtipos. É por esse motivo que a vacinação pode trazer benefício mesmo para adultos que já são sexualmente ativos há anos.
— Mesmo pessoas que já tiveram lesões por HPV e inclusive câncer causado pelo vírus ainda tem benefício na vacinação. — explica Camila. — É claro que o melhor momento para se vacinar é antes mesmo de qualquer exposição, pois aí há a possibilidade de ser exposto ao vírus e ele ser sempre curado, não se tornar uma infecção permanente, mas com certeza até os 45 anos ainda vale a pena se vacinar.
A especialista afirma que também deve ser levado em consideração o fato de que quando pessoas que têm idade entre 30 e 40 anos são infectadas com um novo tipo de HPV, elas terão uma chance maior de desenvolver uma lesão persistente do que tinham aos 20 e poucos anos.
— Isso porque a nossa imunidade durante a juventude é muito boa e é até por isso que nessa fase a gente normalmente se cura sozinho. Mas depois, com 40 e poucos, a nova infecção pode ser pior. Então, se a pessoa está na casa dos 30 ou 40 e ainda não fez a vacina contra o HPV, a recomendação é fazer, pois ela poderá ter benefício nas próximas décadas — conclui.
Fonte: GZH
Imagem: WindyNight / stock.adobe.com
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